Devo começar pedindo desculpas por minha ausência.
Não por falta do que dizer, mas por preguiça mesmo, assumo.
E peço licença para uma pequena declaração de amor.
Nos últimos dias tenho vivido o famoso turbilhão de emoções.
Sou do grupo 'não, não tenho filhos'.
Durante um tempo foi mero acaso, depois passou a ser uma escolha.
Não que eu tenha absoluta certeza, mas a essa altura do campeonato, já virada nos 40, me parece que assim será.
Digo que nasci para ser tia, para ser madrinha.
Ô função boa.
E então, no dia 20 de junho, veio ao mundo, como se costuma dizer, o meu sobrinho.
Eu já estava animada, vendo aquela barriga da minha irmã crescendo, um forninho lindo.
Fiquei emocionada com a notícia, extasiada com o convite para ser madrinha.
Na semana do nascimento, comecei a ter crises de ansiedade e parecia uma doida. E olha que já tinha passado por isso quando do nascimento da minha afilhada, Luisa. Mas mais uma vez entrei em trabalho de parto.
No dia pensei que não ia controlar o nervosismo, mas estava mesmo era preocupada com minha irmã, com o risco que todo parto significa, e principalmente porque eu não tinha controle sobre a situação, nem poderia passar por aquilo no lugar dela, até porque ela é quem merecia viver aquilo. Não sou pessimista, apenas irmãe.
Os que convivem comigo sabem de minha neurose com minhas meninas. Minhas irmãs são para mim minhas filhas e depois de anos de terapias, convencionais e alternativas, só lamento: elas que me aguentem, vai ser assim para sempre. E como irmãe, canceriana, não posso deixar de ser neurótica e superprotetora. Simplesmente me faltam forças para ser de outra forma. É um amor... uma doideira.
Então, aquele meu bebê estava lá, toda forte, calma, independente, aquariana, pronta pra parir e eu com os nervos em frangalhos, mas disfarçando bem. (acho)
Quando levaram ela pro centro cirúrgico, eu juntei todas as minhas forças e sentei no café, a espera, como se nada estivesse acontecendo, certa, em minha fé, que tudo correria bem. E não foi que deu certo!
Em menos de 1 hora, meu cunhado e irmão, surgiu no berçário para apresentar ao mundo, seu filho. Aí começou o vexame. Gritava, chorava, transbordava e nem pensei em segurar. Finalmente, entendi que não deveria ter medo de minhas emoções, elas fazem parte de mim, do meu monstro. Aquele serzinho mal podia adivinhar o amor que ululava do outro lado do vidro, que o separava da tranquilidade do seio da mãe e o colocava em um mundo de tias loucas por ele, histéricas.
Foi tão bacana ver meus pais entregues àquela emoção, chorando sem vergonha, comemorando, abraçados. A alegria era tanta que parecia doer, parecia não caber no corpo. Como somos frágeis e infinitos, nas possibilidades de amar.
Não sosseguei enquanto não pude ver minha irmã. Ótima, saudável, feliz.
Não sai da minha retina a imagem daquele bebê, que ela fez. A carinha dela.
Senti tanto orgulho daquela menina. E eu que pensava que a amava muito, naquela noite de quarta-feira descobri que posso amá-la ainda mais. Fiquei tão agradecida por ela me dar a oportunidade de viver aquilo. Entendi que o amor só tem graça quando é entrega.
Esse rapazinho, que agora reina na família, é o amor em 3 quilos e meio, o futuro em 49 centimetros e meio. Ele traz nos olhos a possibilidade de nos perdoarmos, nos aceitarmos, nos abraçarmos, nos ajudarmos. Ele é o bem. Ele já nos transformou.
Sinto vontade de dar o mundo pra ele de presente, mas o mundo já foi dado por seus pais. Sinto vontade de dar saúde, paz, tranquilidade, mas isso Deus há de providenciar. Então, já que não sou tão poderosa assim, espero estar presente, por ele. E espero que essa presença faça alguma diferença em sua vida.
Agora posso cuidar de algumas coisas, posso cuidar de mim, porque ele está lá. E eu vou errar, vou meter os pés pelas mãos, vou falar bobagem, vou mimar, vou exagerar. Mas vou fazer coisas legais também. Afinal para que serve uma tia? Que título delicioso.
E o melhor é que vicia, já tô querendo mais, porque no meu peito tem espaço. Só preciso de um tempo para me reequilibrar.
Em quatro dias meu amor por minhas irmãs aumentou, meu amor por meus pais aumentou. Que doido.
(pausa - tive que levantar, buscar uma taça de vinho e brindar, tô escrevendo sem pensar)
Engraçado, toda essa beleza não me fez querer ter filhos, mas mais sobrinhos e sobrinhas. Talvez essa seja a minha verdadeira missão, que abraço sem pestanejar! Não faço discurso pró ou contra maternidade, sou o tipo de pessoa que fica feliz com a felicidade dos outros. É isso que você deseja, minha irmã? Então tenha seu filho e sejam felizes, para todo o sempre, que feliz eu também serei.
como cantou Renato Russo, o filho dela tem nome de santo. Santo nao precisa ter cunho religioso; santo pode ser aquele cara que se destaca porque luta pelo bem maior, que é a vida, com dignidade. Possa eu, meu filho, ajudar em seu percurso.