Monday, October 15, 2012

Aos mestres com carinho

Hoje comemoramos o Dia do Mestre.

Em minhas remotas e tenras lembranças resta sempre uma figura de professor. 
Sempre admirei intensamente a capacidade de alguém saber ensinar e aprender ao mesmo tempo. A generosidade, a técnica, a desenvoltura, sempre me fascinaram. Não é a toa que sempre tentei ser boa aluna, em respeito a essa figura que ali diante de nosso grupo trazia luz às nossas mentes ainda em formação.

Isso sempre foi tão forte em minha vida que até hoje quando me inscrevo em algum curso, palestra, ou algo do gênero e tenho a minha frente alguém demonstrando algum conhecimento, fixo meu olhar e atenção como se fosse um obediente soldado e devo dizer, muitas vezes me vi diante de assunto que em nada me interessava, minha mente vagava, mas meu olhar, meu respeito lá estava; pode não ser o ideal mas acho correto.

Desde pequena adorava essa figura, tentei me imaginar como uma, tinha quadro negro em casa e brincava de professora, mas não fluía bem, porque o que eu gostava era da fantasia, do teatro. 

Logo veio minha irmã Ana Luiza e do alto de seus 3 anos já era professora, aquilo me intrigava, tão pequena criatura já com uma profissão delineada... Aliás nossa irmã caçula, Elisa, também sempre soube instintivamente sua vocação: equilíbrio alimentar. Não à toa se formou nutricionista. Eu - a mais velha - sou daquelas que tem vocação para perceber a vocação de outros.

Tive em minha vida várias moças e moços que me encantaram. Estudei - estudamos as 3 - a vida toda no mesmo colégio - Colégio da Companhia de Santa Teresa de Jesus. A época considerava-se que os colégios católicos tinham excelente formação - além do que minha mãe, comigo ainda no colo, se encantou pelo uniforme de uma aluna vizinha nossa. Aquele vestidinho pied-poule rosa e branco com calcinha fofa e o nome bordado em rosa no peito. Ah, eu amava - ah sim, desde cedo já demonstrava gosto por vestimentas e suas estórias.

Lembro do cheiro, das sensações, dos amigos que foram se formando juntos. Lembro das reivindicações, das palestras, das aulas de religião. Lembro da professora que era linda - parecia e Vera Fischer - e eu tentando imitar seu penteado. Lembro do tato das cadeiras, do barulho de giz. Lembro da estudante de normal que foi estagiária da minha professora de primário e quando se formou, fiz parte de sua primeira turma como professora; era uma garota, mas professora. Anos depois nos reencontramos na minha ultima etapa como aluna, agora ela era professora de inglês, bacana. 

Lembro que no final do ginásio resolvi que era comunista ou ao menos socialista por conta de mue fascínio pelas aulas de História, e protestei quando meus pais perguntaram se gostaria de ir a Disney após debutar - hahahaha - e disse que se fosse para viajar que fosse ao velho mundo e não aquele centro capitalista louco. Reflexos de uma classe média, encurralada entre a ditadura conhecida e o novo mundo que se mostrava, nos anos 80. 

Em 1988 cursava o ultimo ano do cientifico e acompanhamos a feitura da CRFB, Constituição da República Federativa do Brasil, era tão romântico e excitante. No cientifico me apaixonei por duas mestras: a professora de História e a professora de Português. A elas recorri quando precisei decidir em que curso me inscreveria para o maldito vestibular. Elas foram incríveis como sempre, generosas, sábias, coerentes. 

Eu sei que o fato de nunca ter sido o tipo rebelde me empacou um pouco, mas é com muita alegria que reconheço que vejo as coisas boas da vida. Meus professores, na grande maioria, causaram impacto em minha formação acadêmica, cultural, emocional e como cidadã. Nunca me furtei a ouvir os mais velhos, a reconhecer que até certo ponto eles poderiam me mostrar caminhos. Escolher seria minha função, mas com pessoas maravilhosas a me orientar, ficaria mais tranquila. Admito.

Para ter noção de até onde vai minha loucura, guardo até hoje uma série de trabalhos, provas, textos, desde o maternal ao ultimo ano. Não todos, vez por ano jogo coisas fora, às lágrimas, mas jogo. Minhas redações do 3o ano, não, professora Maria Auxiliadora! Minhas provas de História do 3o ano, não, professora Maria das Graças!

Vocês eram e deveriam continuar sendo as verdadeiras celebridades a quem admiramos com olhos brilhando, coração aberto, mente ávida! Porque nessa relação existe troca. E troca, definitivamente é a melhor moeda.

Minha irmã Ana Luiza, hoje é mãe, e que coisa mais interessante é ver uma mãe professora. Doce, disciplinada, apoiando cada conquista e ficando lá do lado do pequeno aluno na busca por sua independência, sua forma única de ser.

E hoje graças às redes sociais posso ver, mesmo que virtualmente o rostinho de algumas daquelas minhas professoras, ler suas palavras, enviar vibrações de amor e carinho aquelas que me ajudaram a ser quem eu sou, junto com meus pais, irmãs e amigos. Sempre estarão em meu coração e meus atos. Sejam sempre professoras.

Lembrei de um professor que tive na universidade, muito realista, do tipo curto e grosso. De sua matéria pouco ensinou, mas me fez aumentar o gosto por leitura, nos fazia entregar resenhas sobre livros de Eça de Queiroz, o que mais poderia me ensinar? 

A cada um que ao seu modo ensina, aqueles professores que mal ganham para sustentar a família  que cruzam estradas de terra, que dividem seu pão com as crianças, que pedem doações de livros, que se percebem existindo em uma sala de aula, aqueles que tem mais sorte e conseguem uma turma envolvida e participativa, aqueles que obtiveram sucesso a muito custo, a esses e a todos os professores, desejo não apenas um bom dia do mestre, mas uma boa vida de mestres. Porque professor nasce assim e vai assim por toda vida.
Obrigada por existirem!



Segundo Wikipedia: 
No dia 15 de outubro de 1827 (dia consagrado à educadora Santa Teresa de Ávila), Pedro I, Imperador do Brasil baixou um Decreto Imperial que criou o Ensino Elementar no Brasil. Pelo decreto, "todas as cidades, vilas e lugarejos tivessem suas escolas de primeiras letras". Esse decreto falava de bastante coisa: descentralização do ensino, o salário dos professores, as matérias básicas que todos os alunos deveriam aprender e até como os professores deveriam ser contratados. A ideia, inovadora e revolucionária, teria sido ótima - caso tivesse sido cumprida.

Mas foi somente em 1947, 120 anos após o referido decreto, que ocorreu a primeira comemoração de um dia efetivamente dedicado ao professor.

Começou em São Paulo, em uma pequena escola no número 1520 da Rua Augusta, onde existia o Ginásio Caetano de Campos, conhecido como "Caetaninho". O longo período letivo do segundo semestre ia de 1 de junho a 15 de dezembro, com apenas dez dias de férias em todo este período. Quatro professores tiveram a ideia de organizar um dia de parada para se evitar a estafa – e também de congraçamento e análise de rumos para o restante do ano.
O professor Salomão Becker sugeriu que o encontro se desse no dia de 15 de outubro, data em que, na sua cidade natal, Piracicaba, professores e alunos traziam doces de casa para uma pequena confraternização. A sugestão foi aceita e a comemoração teve presença maciça - inclusive dos pais. O discurso do professor Becker, além de ratificar a ideia de se manter na data um encontro anual, ficou famoso pela frase " Professor é profissão. Educador é missão". Com a participação dos professores Alfredo GomesAntônio Pereira e Claudino Busko, a ideia estava lançada.
A celebração, que se mostrou um sucesso, espalhou-se pela cidade e pelo país nos anos seguintes, até ser oficializada nacionalmente como feriado escolar pelo Decreto Federal 52.682, de 14 de outubro de 1963. O Decreto definia a essência e razão do feriado: "Para comemorar condignamente o Dia do Professor, os estabelecimentos de ensino farão promover solenidades, em que se enalteça a função do mestre na sociedade moderna, fazendo participar os alunos e as famílias".

Saturday, July 7, 2012

SUVACO DE CANELA

Pode parecer doideira minha (acostume-se), mas nos últimos meses uma certa linha de propagandas veiculadas na TV vem me incomodando deveras.

Referem-se às axilas femininas.

Uma série de produtos promete hidratar, depilar, clarear e mais recentemente oferecem 0% de perfume para que suas axilas sejam tão belas e formosas quanto o resto de seu corpo escultural e seu rosto angelical. 

Fazem os homens voltarem o olhar para aquela que tiver o suvaco mais belo. A competição ficou mais acirradas, meninas ;) Ainda mais em uma cidade como o Rio em que os suvacos vivem a mostra, faça verão ou faça veranico.

Já não me basta gastar os tubos com cremes, óleos, hidratações, tonalizantes, maquiagem, depilação, design de sobrancelha, agora me informam que tenho que hidratar e clarear minhas axilas a um nivel em que o photoshop seja desnecessário. 

Não poderei mais jogar os braços pro alto levianamente, pois a polícia da beleza suvacal poderá me prender por atentado ao bem maior: a beleza inventada.

Paralelo a isso sei que começou a passar na TV a série baseada no livro de Jorge Amado, "Gabriela, cravo e canela", publicado em 1958, que retrata a Ilhéus dos anos 20.

Gabriela é aquela com pele dourada da Bahia.
Ainda não assisti a um capítulo, mas me peguei imaginando que a Gabriela de Juliana Paes dever ter o suvaco em tons de canela, sem pelos a mais, que brilha a cada vez que sobe em telhados e ofusca toda a cidade, apaixonada pela bonitona. Não deve ser um suvaco antropologicamente correto, mas deve ser correto. 


A Gabriela de Sônia Braga, em 1975, seguia uma linha mais - digamos -, natural, que também não me agrada como escolha pessoal mas me satisfaz como coerência ao contar-se tal estória.
O tal suvaco era de cravo e canela mas trazia um temperinho a mais...




Seja ao natural, depilada mas desencanada, ultra hidratada com folhas de ouro, escolha o suvaco que melhor combinar com sua vida, não se torne escrava ou deposite todas as suas esperanças debaixo do braço. Jogue-se, sinta-se, cuide-se, e principalmente acredite naquela beleza que é sua, de outra forma isso nunca vai terminar, sempre vai haver algo a mais que possibilite a perfeição inatingível e a loucura vai transformá-la em feiúra, não espere a loucura que a liberte.












Sunday, June 24, 2012

Encantamento

Devo começar pedindo desculpas por minha ausência.
Não por falta do que dizer, mas por preguiça mesmo, assumo.
E peço licença para uma pequena declaração de amor.

Nos últimos dias tenho vivido o famoso turbilhão de emoções.
Sou do grupo 'não, não tenho filhos'.
Durante um tempo foi mero acaso, depois passou a ser uma escolha.
Não que eu tenha absoluta certeza, mas a essa altura do campeonato, já virada nos 40, me parece que assim será.
Digo que nasci para ser tia, para ser madrinha.

Ô função boa.

E então, no dia 20 de junho, veio ao mundo, como se costuma dizer, o meu sobrinho.
Eu já estava animada, vendo aquela barriga da minha irmã crescendo, um forninho lindo.
Fiquei emocionada com a notícia, extasiada com o convite para ser madrinha.


Na semana do nascimento, comecei a ter crises de ansiedade e parecia uma doida. E olha que já tinha passado por isso quando do nascimento da minha afilhada, Luisa. Mas mais uma vez entrei em trabalho de parto.

No dia pensei que não ia controlar o nervosismo, mas estava mesmo era preocupada com minha irmã, com o risco que todo parto significa, e principalmente porque eu não tinha controle sobre a situação, nem poderia passar por aquilo no lugar dela, até porque ela é quem merecia viver aquilo. Não sou pessimista, apenas irmãe.

Os que convivem comigo sabem de minha neurose com minhas meninas. Minhas irmãs são para mim minhas filhas e depois de anos de terapias, convencionais e alternativas, só lamento: elas que me aguentem, vai ser assim para sempre. E como irmãe, canceriana, não posso deixar de ser neurótica e superprotetora. Simplesmente me faltam forças para ser de outra forma. É um amor... uma doideira.

Então, aquele meu bebê estava lá, toda forte, calma, independente, aquariana, pronta pra parir e eu com os nervos em frangalhos, mas disfarçando bem. (acho)

Quando levaram ela pro centro cirúrgico, eu juntei todas as minhas forças e sentei no café, a espera, como se nada estivesse acontecendo, certa, em minha fé, que tudo correria bem. E não foi que deu certo!

Em menos de 1 hora, meu cunhado e irmão, surgiu no berçário para apresentar ao mundo, seu filho. Aí começou o vexame. Gritava, chorava, transbordava e nem pensei em segurar. Finalmente, entendi que não deveria ter medo de minhas emoções, elas fazem parte de mim, do meu monstro. Aquele serzinho mal podia adivinhar o amor que ululava do outro lado do vidro, que o separava da tranquilidade do seio da mãe e o colocava em um mundo de tias loucas por ele, histéricas.
Foi tão bacana ver meus pais entregues àquela emoção, chorando sem vergonha, comemorando, abraçados. A alegria era tanta que parecia doer, parecia não caber no corpo. Como somos frágeis e infinitos, nas possibilidades de amar.

Não sosseguei enquanto não pude ver minha irmã. Ótima, saudável, feliz.




Não sai da minha retina a imagem daquele bebê, que ela fez. A carinha dela.
Senti tanto orgulho daquela menina. E eu que pensava que a amava muito, naquela noite de quarta-feira descobri que posso amá-la ainda mais. Fiquei tão agradecida por ela me dar a oportunidade de viver aquilo. Entendi que o amor só tem graça quando é entrega.

Esse rapazinho, que agora reina na família, é o amor em 3 quilos e meio, o futuro em 49 centimetros e meio. Ele traz nos olhos a possibilidade de nos perdoarmos, nos aceitarmos, nos abraçarmos, nos ajudarmos. Ele é o bem. Ele já nos transformou.

Sinto vontade de dar o mundo pra ele de presente, mas o mundo já foi dado por seus pais. Sinto vontade de dar saúde, paz, tranquilidade, mas isso Deus há de providenciar. Então, já que não sou tão poderosa assim, espero estar presente, por ele. E espero que essa presença faça alguma diferença em sua vida.

Agora posso cuidar de algumas coisas, posso cuidar de mim, porque ele está lá. E eu vou errar, vou meter os pés pelas mãos, vou falar bobagem, vou mimar, vou exagerar. Mas vou fazer coisas legais também. Afinal para que serve uma tia? Que título delicioso.

E o melhor é que vicia, já tô querendo mais, porque no meu peito tem espaço. Só preciso de um tempo para me reequilibrar.

Em quatro dias meu amor por minhas irmãs aumentou, meu amor por meus pais aumentou. Que doido.

(pausa - tive que levantar, buscar uma taça de vinho e brindar, tô escrevendo sem pensar)

Engraçado, toda essa beleza não me fez querer ter filhos, mas mais sobrinhos e sobrinhas. Talvez essa seja a minha verdadeira missão, que abraço sem pestanejar! Não faço discurso pró ou contra maternidade, sou o tipo de pessoa que fica feliz com a felicidade dos outros. É isso que você deseja, minha irmã? Então tenha seu filho e sejam felizes, para todo o sempre, que feliz eu também serei.


Meu sobrinho, João Antônio, assim 
como cantou Renato Russo, o filho dela tem nome de santo. Santo nao precisa ter cunho religioso; santo pode ser aquele cara que se destaca porque luta pelo bem maior, que é a vida, com dignidade. Possa eu, meu filho, ajudar em seu percurso.



Monday, April 23, 2012

O Rio de Janeiro tem dessas coisas...

É sem dúvida uma cidade que abraça quem aparecer, tipo bêbado em final de festa, e talvez, apenas no bom sentido.

Por isso por mais que eu reclame de tanta coisa que nos machuca, vez ou outra me bate aquela paixãozinha.

Talvez porque nunca tenha sido garota de praia, apesar de adorar o clima que a envolve; ou por nunca ter sido garota de samba, apesar de já ter me acabado na quadra da mangueira, ou ainda por nunca ter sido sarada e gostosa, apesar de alguns operários de construções acharem que sim. Talvez por esses motivos e diversos outros tenha me sentido deslocada na maior parte do tempo.

Vez ou outra quando conheço alguém, rola a ceninha: puxa, você é mesmo carioca? Nem parece. Nem tem sotaque. Pô, mermão, já se foi o tempo que a imagem da mulher carioca tinha que ser bronzeada 365 dias, goxtosa, como um coco gelado na mão, no Arpoador, curtindo o pôr-se-sol, apenas... Apesar do que essa imagem me deu até invejinha.

Por conta da difícil conexão com minha cidade querida, adoro quando ela me surpreende. Pode me chamar de ridícula, mas das vezes em que mais me encantei foi quando da visita de amigos de fora. Acredita que a primeira vez que fui de bondinho a Santa Teresa foi com um amigo australiano, há uns 3 anos? Ele inclusive já se esbaldou em baile funk e na Rocinha e eu nem conheço. Acho que me escondo um pouco. Fujo de certas coisas. Nada como o olhar estrangeiro para me fazer apaixonar por esse cantinho do mundo, privilegiado.

E tem o seguinte fico sempre no mesmo eixo. Se não falo do largo espaço que constitui a cidade não é porque o desmereço é porque não o conheço e não o conheço porque sou preguiçosa. Então não precisa perder tempo me analisando, apenas passeie comigo.

Sempre adorei estar entre amigos, sejamos 2 ou 20. O clima se adequa as circunstâncias. Eu sei que confundo um pouco as pessoas porque sou de lua. Sou caseira e sou rueira, gosto da meia-luz e do som vibrante de uma boa pista de dança. Hoje, estou mais seletiva. Seletiva para não falar devagar. Sou uma BRS.

Para dançar

Já houve época, nem tão distante assim que eu e minha amiga Lu cumpríamos religiosamente o roteiro: sexta, CasadaMatriz, sábado, Bukowski, ambos em Botafogo. E íamos à vontade, não entrávamos em fila e saíamos direto para padaria.  Outros amigos se juntavam e depois de sua partida o circuito mudou. A noite me agradava demais. Muito por conta de eu adorar dançar. Esse era o medidor da qualidade da minha saída: o quanto eu me esbaldei.

O tempo foi passando e percebi que as boates não mais me agradavam. O som não me provocava; o público muito jovem não me dava referências e finalmente quando percebi que era a única querendo suar enquanto a maioria queria fazer carão, desisti.

Então hoje se quero dançar vou ao BUKOWSKI.

Os mais desavisados podem pensar que cito o famoso poeta boêmio (vamos chamar assim) ou os mais cosmopolitas podem imaginar que me confundo com o Club de Madrid ou a loja de móveis antigos em Gotemburgo. Não, falo do Bukowski bar, em Botafogo, no Rio de Janeiro.

Que me perdoem, mas sinto um pouco de saudade do velho. Não que o novo não seja bom, a estrutura tá bacana, o som é ótimo. Mas aquele clima de antes... Esquece... tô velha. Vá e vá preparado para dançar o bom e velho rock’n’roll. Beber bem, comer bem, se quiser. (Ah, porque tem isso também: hoje em dia, eu como quando saio à noite. Antes era só água, depois só cerveja, hoje são uns drinks elaborados e uns petiscos de bom gosto). Depois de forrar-se, ou não, vá circular, são 2 andares, no segundo tem uma sala tocando vinil, tem uma com jogos e outro bar. A parte externa é uma delícia, fresca e sempre rola uma paquera (ainda se fala ‘paquera’?). A pista é um pouco apertada, mas é esse o espírito! Requebre sem medo de ser feliz. Adoro quando o povo canta junto aquela música que você só ouve lá. Se quiser fique bêbado, mas seja sempre cordial. As meninas se surpreendem com o banheiro, sempre cuidado (bem diferente da 19 de fevereiro, vale lembrar, ou não). Todo final de semana tem uma festa, um tema para celebrar. Divirta-se. Se puder vá de sapato fechado porque na pista o pé sofre um pouco, mas se já estiver anestesiado... Experimento sempre um drink com uma Absolut diferente, acabo gastando um pouco mais, mas se fôr de cerveja, a conta fica tranquila.

Fica na Rua Álvaro Ramos, 270.
Se você é usuário de facebook, como a maioria dos terrestres, visite a página.

Para curtir um café da manhã

Acordar, espreguiçar, sacudir o cheirinho de cama, ligar para os amigos e partir para mais um café da manhã, charmoso e quentinho, aproveitar o clima e contar dos sonhos que ainda estão fresquinhos na mente, se sentir aproveitando cada minuto de um dia que promete. A vantagem de estar no Rio de Janeiro é que quase todo dia é propício para esse tipo de programa. É fácil observar que virou um hábito. Por vezes o carioca troca uma noitada por acordar mais cedo e deliciar-se com uma mesa farta, cercado de amigos ou da outra metade da laranja.

Dependendo do clima, da disposição e do orçamento as opções são as mais variadas, eu e minhas amigas temos aproveitado para conhecer um lugar diferente a cada final de semana.

CASA DA TÁTA. Super aconchegante, tem uma carinha de serra em pleno bairro da Gávea. O espaço é pequeno, então vale chegar cedo para garantir uma mesa, muitas vezes o povo fica na calçada batendo um papo, esperando a chamada. Ao chegar coloque logo seu nome na lista se estiver disposto a aguardar. A versão completa do café da manhã traz bebida quente, suco, pães, pão de queijo, frios, bolos, frutas e pão doce. Gastamos R$ 25,00/pax. www.dacasadatata.com.br.

PÃO & COMPANHIA. Só estive lá uma vez, em uma manhã de carnaval e me surpreendeu positivamente, tudo bem que já conhecia como padaria, tem uma boa variedade de pães de qualidade, o café você monta com cestinhas de pães, frios, bebida quente ou gelada, bolos. Éramos 3 nesse dia e se não me engano gastamos uns 20 reais cada e ficamos bem satisfeitas. www.paoecia.com.br.

MARKET. Adoro o lugar. Em minha primeira visita fui justamente para um café da manhã com minha mãe ao sairmos da consulta dela ao dentista. Pedimos uma tábua que vem com queijo minas e peito de peru, manteiga e geléia; e os pãezinhos, mmmm, quentinhos e fresquinhos. Existem outras opções e o forte são os produtos naturais e orgânicos, mas tudo muito saboroso, sempre. É o tipo do lugar que adoro visitar seja para o café da manhã, almoço ou jantar, todos com opções para gostos variados e na quinta-feira a noite ainda rola um show de jazz. Programa que dá certo. A decoração é moderna e fresca, dá uma sensação de ar livre e alegria, com cadeiras coloridas e clima aconchegante. www.marketipanema.com.br.

LA BICYCLETTE. Conheci em um domingo agitado em que as primeiras opções estavam lotadas, lá também tinha fila de espera, mas como a fome já atacava resolvemos esperar; pedi uma opção com frutas, bebida quente, suco, pães, geleia e manteiga, tinham sanduíches belíssimos também. As mesas ficam na calçada e cada uma tem uma torradeira, mas os pães são tão frescos que não achei necessário torrá-los. Gastamos algo em torno de 25, 30 reais por pessoa. www.labicyclette.biz.

PARQUE LAGE. A visita ao Parque por si só é um programa incrível, com a família ou com os amigos. Alguns optam por um picnic nos jardins, o que deve ser delicioso. Optamos pelo Café du Lage naquele dia. Na verdade, o nosso café da manhã tinha sido na casa da Táta e lá apreciamos um brunch regado a espumante. O clima é adorável, algumas pessoas optam for ficar nos futons no chão; pedimos uma mesa, o dia estava lindo e fresco. Bem movimentado. O apetite já surgira após uma bela caminhada pelo parque com direito a subidas e descidas, o que para mim significa intensa aventura. O visual e o ar são deslumbrantes. http://www.synapsedigital.com.br/cafedulage/

ESCOLA DO PÃO. Até agora o meu preferido lugar para se sentir feliz comendo. O valor cobrado é por pessoa e o serviço se dá como a francesa, em uma ordem cronológica e que aguça sua curiosidade. Nada é over e você se vê tentado a experimentar cada pedacinho que lhe é servido. Os pães espetaculares; sou profunda admiradora de pães e a cesta servida me tratou com todo carinho. Os ovos mexidos são os melhores da cidade, cremosos e temperados. Até o suco de laranja é especial. Depois disso são detalhes difíceis de descrever, tem que experimentar. Você gasta algumas horas lá, sai rindo de orelha a orelha e pula o almoço. O preço pode ser um pouco salgado, mas se pensar que vai economizar no almoço é um luxo que todos merecem ao menos uma vez. Comprei até o livro, achando que um dia, inclusive me inscreveria para as aulas que lá acontecem. E os doces...bicoitos...waffles...Mas os pães...ai,ai. Como nada é perfeito o único ‘porém’ é que os banheiros ficam no terceiro andar, se você for levar sua avó ou alguém com dificuldades de locomoção fica um pouco complicado. E se você não estiver com fome ou com dieta restrita, não vá, seria um desperdício. Fora isso, coloque no orçamento deste mês, vá acompanhado para poder comentar cada mordida e seja feliz. http://escoladopao.com.br


São apenas dicas que gosto de dividir, afinal que graça tem o prazer se não for compartilhado?




Sunday, April 22, 2012

Álbum de figurinhas_continuação

A vendedora pop


Em moda nada se cria, tudo se aproveita. O ciclo é de 20 anos, portanto o resgate é inevitável. A criatividade está nos detalhes e na adequação ao contemporâneo. A história da moda indica não apenas a superficialidade que se aponta como defeito, mas o comportamento de um determinado grupo em determinada época, de acordo com seus valores, crenças, clima, etnia e desenvolvimento, cultural e econômico. Verdades absolutas duram exatos 6 meses e a indústria ferve antecipando estações. Seguir a moda fielmente é perda de tempo e desperdício de oportunidade. Porque o que cobre o seu corpo pode revelar muito sobre quem você é ou pensa que é, em que grupo está inserido, em que tempo flutua, o que pretende. Verdade também absoluta que dura 60 segundos, o tempo de despir-se. O chato do mundinho são as frases feitas, os bordões, os entendidos, os que a intelectualizam.

Acorda!! Esse pedaço de pano é apenas a mais pura fantasia e não o julgamento de Sócrates. 

Desde criança, um dos meus lugares prediletos era sentada no meu banquinho de madeira ao lado da máquina de costura de minha avó. O barulho de seu trabalho, sempre exemplar, enchia minha cabecinha de ideias e fantasias. Tentava, em vão, costurar algo para minhas bonecas, mas sempre me faltou talento para trabalhos manuais, o que para uma pessoa que tem ideias borbulhando é uma angústia atroz.

Criado esse hábito pude aprimorar meu reconhecimento, o que inclui meu corpo e o que lhe cobre bem. Pude ir aprendendo um pouco sobre tecidos e cortes, cores e combinações e elaborando meu próprio estilo. Com ajuda de minha vó, que acabou me criando um problema: roupas feitas sob medida... Lembro que por vezes desenhava mal um novo vestido e em um passe de mágica lá vinha ela com a peça pronta e perfeita. Nem preciso dizer como fiquei perdida quando ela precisou parar de costurar porque sua coluna estava em frangalhos. Tudo bem, vamos ao que já está pronto.


1.    Você roda a loja, encontra umas peças que te agradam, vai ao provador, 3 segundos depois a moça começa a tentar enfiar a cabeça pela cortina e pergunta: como ficou? Posso ver? Ui, como me irrita. Digo logo: puxa, acabei de tirar...

2.    Você veste, mas precisa de espaço e de um espelho maior e cai na asneira de sair do provador. A moça logo saca: - noooossa, ficou lindo em você. Também com esse corpo, essa altura... Quer experimentar com um cintinho?

3.    Você se encanta por um vestido que está na arara, em tamanho P e você pede em tamanho maior. Não tem. Ela com toda sua genialidade lhe intima: mas experimeeenta, de repente dá. Docemente você explica: Não, meu bem, eu sou G, não vai caber. Ela insiste: - mas experimeeenta! Você coloca a peça na frente do seu corpo e generosamente tenta: - você está vendo a cava do vestido, a marca do ombro? Vê onde acaba o tecido e que após o meu ombro continuuua? - Ah, ela suspira, mas experimeeeenta!

4.    Costumava frequentar uma loja que tem umas peças bacanas, não tão ‘o mesmo de sempre’, tive uma bruta sorte e a menina que me atendia me sacou e me deixava à vontade e colocava a opinião em momento certo, lembrava-se de peças que eu curtiria e seguia nosso relacionamento, vez ou outra me ligava ou mandava e-mails me convidando para uma visita. Uma menina de talento, sempre vendia bem. Até um dia que ela saiu da loja, fiquei chateada para logo em seguida ficar apavorada... comecei a receber e-mails da vendedora que herdou os contatos dela e seguiam um formato próprio de vendedora que não me conhece: “oiiiiii, onde você andaaaaa!!!!!!! Venha nos visitaaaaaar, temos blusinhas liiiindas que acabaram de chegaaaar!!!!!!! Estou te esperando, hein!!! Beijossssssssss.” Stalker! Belo dia, reencontrei a doce menina em outra loja e contei o ocorrido (vários e-mails no mesmo tom) e ela, chateada disse que duas clientes antigas vieram contar o mesmo e que estavam irritadíssimas, uma inclusive andava com o e-mail impresso com medo de sofrer um sequestro ou abdução.

5.    Você sai da academia e resolve ir ao shopping. Adora vestido longo e escolhe um, que lhe cai bem. A vendedora diz que está liiindo (ufa, que bom, não me sentiria segura sem a opinião dela), mas que você deveria usar com uma rasteirinha. - Sério? Não, não, lindinha, tô comprando para usar com esse meu Nike Air mesmo, não gostou? - Ah, claro!! Ficou diferente.

6.    Há alguns anos descobri uma loja que adoro, eu e minha irmã compramos muito por lá. Além de tudo tinha um atendimento ótimo. A marca cresceu e o casting de vendedoras inclui apenas jovens na casa dos 20 anos, charmosas e simpáticas sempre, mas que seguem um roteiro. A pessoa entra na loja e diz: - por favor, eu quero um sapato preto, fechado, de salto quadrado médio. A vendedora solícita vai ao estoque e volta com 16 caixas de sapatos, entre eles, uma rasteira dourada com uma pedra verde, uma sapatilha roxa, um peeptoe xadrez, um salto agulha e talvez se der sorte um preto fechado com salto quadrado médio. Você sorri amarelo, experimenta e em seguida vem a indefectível colocação: - esse fica ótimo com uma calça jeans e uma camiseta branca. O que além de ser uma informação absolutamente óbvia é inócua, uma vez que eu não uso calça jeans com camiseta branca!!

7.    Boa mesmo é quando você se apaixona por aquela camiseta e quando vai pagar a moça logo te anima, tentando te deixar segura da compra, te juntando à multidão: - que bom que você resolveu levar, todo mundo tá levando, essa era a última. - Ôôô... puxa, que bom...(obrigada por me brochar)


Na verdade, apesar de muitas vezes me irritar eu acabo agradecendo por me forçarem a fazer uma economia, especialmente naquelas situações em que no segundo que você entra na loja vem a moça e começa:

- oi, sou Gesgilayne, você tá procurando alguma coisa em especial?

não, obrigada, gostaria de dar uma olhadinha.

claro, fica a vontade, mas é pra alguma ocasião, festa?

não, só vim olhar as novidades.

ah, que bom, olha aqui esse vestidinho já é da nova coleção, qual seu tamanho?

ehhh, eu volto mais tarde.

Inocentemente e animadíssima:

volta sim, e não deixe de me procurar.

E o pior é quando eu sou profundamente grossa e arrogante e declaro - não sem antes ter passado por uma bateria de interferências absurdas, bom ressaltar -:

- pode ficar tranquila, que eu sei exatamente o que eu quero e já trabalho com moda há 20 anos, então eu tenho uma noção do que devo comprar.

E só de castigo recebo:

- ah, então você vai adorar essa nova proposta que chegou hoje na loja!

Eu odeio novas propostas.

Outro dia experimentei um sapato, que acabei comprando, ainda mais estimulada pela criteriosa avaliação da menina:

- esse você vai perceber que valoriza as pernas.

Pensei com meu piercing:

- sério? Nossa, que novidade, um salto 10 que valoriza as pernas.


Afinal de contas são crianças como você (já foi um dia). Estão tentando ganhar a vida e experiência, estão certas de que já detém a expertise necessária para ajudar toda e qualquer pessoa a fazer um makeover, sem a necessidade de perceber as nuances; os comportamentos, os corpos variados.
Leva tempo.

Saudade de frequentar minha loja favorita, uma das primeiras multi-marcas do Rio em que as vendedoras eram mais maduras, gentis e estilosas e principalmente criavam uma conexão com você. Sempre a mesma me atendia, conversávamos amenidades e ela dizia só: volto já. Eu nem olhava as araras, ela trazia tudo que eu gostava, no tamanho certo. E ninguém te forçava a comprar mais do que você planejara. E ainda ouvia um: - acho que esse não ficou legal, não está combinando com você, ou - ficou apertado. Porque além de agradar corria a vontade de estabelecer a marca e sua personalidade o que significa não vender em massa. Adoro.

Massa só ao molho pesto.

Tudo isso para dizer que quando se trata de decidir o que comprar sou chata mesmo, não demoro horas no provador, nem fico insegura, se restou dúvida: não levo. Se agradou: faço as contas. Sei o quanto me custa cada centavo e pior ainda sei o que quero e o que me cai bem e o que me cai mal. Sou minha própria stylist e, para eu dar chance de considerar sua opinião a moça tem que comer muito feijão com arroz; temperar com azeite e açafrão e salpicar uma salsinha.

Saturday, April 21, 2012

Mercadão

Mercadão de Madureira. Percebi que lá, como em boa parte da cidade as pessoas não percebem a presença dos outros. 'Com licença' deixou de ser um pedido para ser um aviso de que estou passando e derrubando o que mais estiver em meu caminho.

A principio me irritei e dei uma de velha chata reclamando em voz alta: vem cá, as pessoas esqueceram que você deve pedir licença e aguardar um instante para que a outra pessoa dê passagem?

Garrei uma reiva, fiquei irritada por alguns minutos dada a insistência e repetição do fato. De repente um insight: E se ao invés de me irritar e lutar contra eu demonstrar o que me foi ensinado?

Pois bem, decidi fazer farta distribuição do vernáculo e sem mesuras escancarei o verbo...

Era um tal de 'com licença', 'muito obrigada', 'como vai?', 'por favor...', 'tchau, mais uma vez obrigada' e sem pudor assinava com um sorriso discreto.

Bastou para receber de volta sorrisos incrédulos, agradecimentos delicados, espaço para passar, atendimento eficaz.

No fundo, tá todo mundo carente de gentileza, basta começar que o nó desata.

Mercadão de Madureira. Não é bonito, não é cheiroso, mas tem gente lá e, com gente se fala língua de gente.

Wednesday, April 4, 2012

O muro _ The wall

Onde trabalho há uma escola onde devemos fazer um numero x de horas aula para seguir nossa carreira. Algumas vezes você se submete a coisas chatas e sem proposito, mas vez ou outra, se escolher bem, acaba usando seu tempo de forma proveitosa.

Eu sou reconhecidamente uma pessoa otimista, então, quando a aula me dá limões tento fazer um caipirinha.

Em uma dessas classes, algo a ver com excelência em atendimento, a professora era uma psicóloga muito simpática e animada. O grupo um pouco relutante. Fui fazer o curso com uma amiga que não curtiu muito, mas foi.

Certo dia a orientadora reuniu o grupo em roda e propôs um exercício. De olhos fechados íamos criando uma estorinha na cabeça de acordo com as situações expostas por ela. Tinha a ver com uma missão a cumprir, um caminho, as ferramentas e o encontro com um muro altíssimo que tínhamos que atravessar para enfim cumprir a tal missão. Ela pede que todos abram os olhos e que, um por um, contem a estorinha.

Fui ouvindo, interessada. A maioria estava em um local de praia, usava o celular para contatar a outra parte na missão, corria, explodia o muro e rapidamente, como em um filme de ação resolvia a questão. Alguns tinham detalhes engraçados, mas eram contados de forma rápida e prática, me distraí e quando chegou a minha vez, pensei: ai ai ai, não dá tempo de inventar outra coisa, vou contar o que já tinha brotado em minha cabecinha...



Comecei: Paris, 1926. Estava apressada cruzando a Avenida Champs-Élysées; vestia um casaco escuro, sobre um vestido esvoaçante, na cabeça um belo chapéu.



Desconfiada, me encaminhava ao bistrô já tão conhecido, onde encontraria Simone, Jean-Paul e mais uns amigos, levava algo no bolso, uma mensagem.






De repente, dobro a esquina e em uma viela já estou em 1933, de sobretudo, um pouco assustada, mas corajosa, tenho que cumprir a missão. No escuro percorro a ruela imunda. Na minha frente um muro, tão alto e profundo, impossível de escalar ou sequer escavar. Do outro lado, meu objetivo.









Não titubeio, levando a mão aos lábios, assobio forte, e logo avisto o super-homem, ele me agarra e me carrega para o outro lado.

Nunca vou esquecer a expressão da minha amiga querida, muito mais prática que eu, calada ela dizia: era mesmo necessário?



 

Saturday, March 31, 2012

Álbum de Figurinhas


(esse post não tem a intenção de ferir apenas divertir)





Trata-se não de um dicionário ou de uma coleção de rótulos e sim, de impressões.

Diversidade. Não do tipo politicamente correto, porque isso por si só já seria opressor. Acredito que cada um de nós é muitos em um só.

Ouso dizer que Sartre ao dizer “o inferno são os outros” simplifica em um tiro o que ocorre no mais interno processo nosso de viver cada dia. E os outros muitas das vezes residem dentro de nós.

Reflexões são poderosas, mas o sentir é mágico.

Mesmo sabendo que cada pessoa oferece um infinito de interpretações e que variamos nossas atitudes e escolhas, acredito que cada pessoa nos marca por uma característica. É a impressão.

Quando sentamos à mesa de um bar e nos embriagamos de divagações sobre todas as formas de poder: o amor, o dinheiro, a família, os amigos, a comunicação, temos várias perguntas e belas respostas. Mas ao pagarmos as contas as esquecemos em cima da mesa. Carregamos apenas as figuras.

Resolvi mostrar minha coleção de figuras que passaram em minha vida e apontar uma única qualidade, positiva ou não, que deixou uma marca em minha vida. O bobo pode ser um cara inteligente, amoroso, virtuoso, maquiavélico, poderoso, mas naquele tempo em minha vida foi o bobo. E, por isso foi relevante. Ou ainda é.

Eu mesma devo ser a chata no álbum de um, a metida em outro, a querida em um especial ;), a burra, a forte, a ausente, a presente, a perigosa, a boazinha, e em muitos álbuns não devo nem constar. É a vida. Cada um com seu cada qual.

A invejosa

Na verdade conheci, desde muito cedo várias pessoas que transpiram inveja e para minha desgraça ao invés de confrontá-las, as acolhi como pessoas que precisam de carinho e atenção, isso obviamente foi um tiro pela culatra, pois o invejoso não quer admirar o seu objeto de raiva, ele quer permanecer na vibração do inalcançável, que é ser o que é o outro.

Vou selecionar uma figura.

Desde pequena aprendi truques com minha avó, que até chamava uma benzedeira para afastar o mau-olhado de mim. Usar um adereço grande para desviar a atenção e focar a energia negativa apenas nele. É infalível, desde que se acostume a brincos voando de sua orelha, pulseiras de suicidando, colares partindo-se em pedaços. Ora, antes eles do que eu!

Abandonei as perguntas sem respostas plausíveis do tipo: por que inveja de mim? Não sou linda, não sou rica, não sou gênio... Estranho...

Aha, uma dica: a inveja não faz sentido, não fosse um sentimento.

Na medida em que não sendo linda eu me fazia diferente, em que não sendo rica transparecia tranquilidade, em não sendo um gênio, tinha sempre uma boa palavra, me fazia alvo de quem não se apreciava e muito menos se esforçava. Algumas pessoas sorriem diante de um sorriso, outras puxam uma arma.

Ela se aproximou e desde o início eu estranhei, não ‘baixei a guarda’, mas aceitei a aproximação. Movida pela curiosidade. Primeiro pensei que o incômodo seria devido ao fato de achar que ela tinha intenções sexuais. E, longe de mim, agir como homofóbica. Os meses foram passando e lembro que ela vinha pedir dicas, depois conselhos, depois dividia confidências. E o desconforto ia aumentando. Pensava: o que essa pessoa quer de mim? Porque era claro que algo ela pretendia tirar de mim. Os meses se transformaram em um ano, em dois. Situações de embate em que ela cochichava que eu deveria dizer algo e me impor só me faziam calar porque era claro ser uma armadilha eu só não entendia a intenção. Afinal, que perigo eu oferecia? Que poder eu tinha? Apenas quando admiti e reconheci esse poder, pude então virar as costas para a invejosa.

Essa invejosa foi um marco. Ela me deu as respostas. Eu sou linda, rica e um gênio! Pobre menina, não teve como resistir à tentação de me invejar. Soa como uma ironia ou soberba. Mas é a mais pura verdade. Não sou eu que preciso mudar minha lindeza, minha riqueza, minha genialidade, ela que precisa encontrar as dela. Torço por ela. Antes da resposta poderia apenas torcer o pescoço dela.

Não sei se já reparou que as pessoas que nos admiram normalmente usam a palavra inveja com muita tranqüilidade: “Puxa, Maricotinha, você vai viajar nas férias para Holanda? Que inveja! To louca para saber de tudo na volta”. “Godofreda, esse vestido está lindo em você, que inveja, preciso fazer um regime urgente! Hahahaha”. Essas besteirinhas do dia-a-dia. Essa inveja é perfeitamente digerida porque expressa uma olhada para o outro e imediatamente após, uma olhada para si mesma. Qualquer um de nós experimenta essa sensação vez ou outra, mas a invejosa absorve o padrão e só se alimenta do que vê no outro. Vai se esvaziando de possibilidades, vai se amargurando diante das impossibilidades. Só olha para fora e nunca para dentro.


Cuidado, um abraço pode deixá-la furiosa! Eu sigo no que depende de mim, pois nada posso oferecer, ela não recebe só toma.

A invejosa articulada tenta ser sua amiga, se aproxima e como um vampiro, espera ser convidada. Adora confortar quando você está mal, reverta isso a seu favor, não é gostoso ser manipulada. É super prestativa e pode ter uma voz que vibra no mesmo tom sempre, desconfie de tanto autocontrole. Aproveita momentos de baixa para grifar suas inseguranças e os momentos de alta para manipular sua vaidade, tentando expô-la. Preste atenção nos sorrisos, eles vem dos olhos, não dos lábios. Aceite sua lindeza, riqueza, genialidade com tudo de peculiar que possuem.


O manipulador

Normalmente o manipulador tende a subestimá-lo e usa o que ele acredita ser sua maior fraqueza para conseguir o prazer do poder. Acontece que essa suspeita fraqueza é o que mais “mexe” com você. Positiva ou negativamente. Muitas vezes algumas características nossas nos envaidecem, estimulamos estas e as apresentamos com orgulho. Aí...o manipulador entra e tira a arma de nossas mãos e a aponta contra nós. Então o manipulador pode ser revelado como uma imagem - invertida - no espelho. Verdade, mas nem tanto.

Ele veste várias capas. Por vezes você o ama a vida toda e um dia percebe. Ai, que dia doloroso. Agora a dinâmica já está criada. E, parte dela, é de sua responsabilidade. Às vezes o manipulador pensa, sinceramente, que aquela é a única forma de amar. E você igualmente acredita que não há outra forma de se relacionar com ele.

O que dizer de uma pessoa que conheceu vários manipuladores em sua vida? Uma pessoa fraca, descuidada? Não necessariamente. Ouso apostar mais na ignorância.

Seleciono um.

Fui arrogante ao ponto de achar que ele precisava de mim. Isso se chama arrogância porque imaginar que alguém precisa de você é entender que você tem mais a oferecer que essa pessoa. O manipulador percebe isso em seu primeiro gesto e se fortalece aí. Ele te induz a agir de modo a realizar seus pequenos e furtivos anseios. Porque ele é pequeno e precisa de coisas pequenas e vis. Ele vai te seduzindo com possibilidades novas e faz de tudo para você pensar que tudo partiu de você. Ele ajuda na internalização de sua culpa diante das fraquezas dele e você segue o processo. Mesmo que você se questione várias vezes, ele sempre consegue demonstrar que o que lhe oferece é amor, amizade, sinceridade. Usa de todos os clichês imagináveis e por mais que você tenha lido folhetins, cai que nem uma pata.

O manipulador vai sempre usar elogios em profusão, aquecendo sua vaidade, vai sempre se oferecer para estar por perto, porque é assim que vigia a vítima, vai passar a ter uma importância em sua vida e de repente vai te exigir algo.

Libertar-se de um manipulador é das mais doces e doloridas vitórias. Exige autoconhecimento, exige aceitar suas características por completo e entender que mesmo que você não consiga alterá-las pode alterar seu padrão de comportamento, porque tudo na vida é questão de hábito, exercício. O manipulador é seu mais fiel espelho invertido.



A fura-olho

Num grupo de meninas sempre tem uma que é a fura-olho. Normalmente as mais espertas percebem de primeira, as mais idiotas – como eu – demoram um tempo inventando desculpas para ela. Afinal ela é tão meiga, tão bobinha, que os meninos não resistem, não é culpa dela.

Aí você percebe que toda santa vez que alguém se interessa por um moço, em dois tempos a guria o conquista, que seja por uma semana, mas ela ganha a batalha, que nem era uma batalha, pois a oponente estava distraída.

Na maior parte das vezes são pessoas vazias e sem muita cultura, não tem muito assunto, mas sabem sacudir as madeixas e mexer os ombrinhos de uma forma quase pré-histórica, levando os antiquados machos alfa à loucura. Porque o macho beta, que não curte uma disputa boba, se encanta pela fêmea que o complementa e não que o açoita com a cabeleira.

A fura-olho é uma invejosa manipuladora, normalmente muito sedutora, porém sem instrumentos lógicos. Ela ataca, no entanto finge ser presa difícil, finge ser ingênua e mais que tudo finge ser amiga. Porque se você fôr investigar por 10 minutos a vida pregressa da moça vai descobrir que ela não tem em seu banco de dados amiga alguma. Mas ela precisa da presença feminina para poder ter concorrentes, para poder exercitar seu poder de sedução. Ela só se interessa pelo macho de outra. O cara desimpedido passa despercebido.

A fura-olho só será ameaça para aquelas que estão saindo com o cara errado, fique tranquila. O problema dessa figura não é o cara que ela te tira e sim o fato de você ter se enganado, oferecendo sua amizade a uma pessoa que não entende do riscado.


O que ainda não sabe


Sou queen do reino das que encantam rapazes que ainda não saíram do armário.

Nem de longe apresentam ameaça ao seu bem-estar, apenas uma perda de tempo se espera uma estória apaixonada.

Lembro-me de um em particular que conheci em uma noitada. Uma graça de rapaz, super bonitinho, dançava bem, beijava bem. Conversamos horas sobre a vida e como ele estava me confundindo um pouco resolvi ser direta e perguntei: ‘você é gay?’. Ele manteve a conversa em um nível ótimo, me confidenciou certas coisas, mas afirmou categoricamente que não. Segui.

Saímos mais uma vez e ele sempre gentil, cavalheiro, e totalmente encantado por mim se mostrava dono da situação. Bebericamos algo e resolvemos sair para dançar. No meio da dança, minha blusa leve, de seda, entreabriu-se. Por um segundo até fiquei envergonhada, mas ele, olhando para meu decote, desferiu o golpe final: nossa, seu sutiã é lindo. Acredito que se estivesse bêbada teria ali mesmo tirado o adereço e dado ao rapaz, imaginando que o faria mais feliz do que qualquer tentativa minha de sedução.

Guardo com carinho essa figurinha, que como outros que surgiram em minha vida desde a mais tenra juventude me fazem sentir bem, me fazem sentir feminina e especial. Porque demonstraram que se não fossem rapazes gostariam de ser como eu. Adoro. É claro que frustra um pouco, não vou mentir, mas não resisto.


 
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Vou ao jornaleiro comprar mais figurinhas e volto para ir preenchendo o álbum. Tem umas premiadas que quero destacar!