Saturday, March 31, 2012

Álbum de Figurinhas


(esse post não tem a intenção de ferir apenas divertir)





Trata-se não de um dicionário ou de uma coleção de rótulos e sim, de impressões.

Diversidade. Não do tipo politicamente correto, porque isso por si só já seria opressor. Acredito que cada um de nós é muitos em um só.

Ouso dizer que Sartre ao dizer “o inferno são os outros” simplifica em um tiro o que ocorre no mais interno processo nosso de viver cada dia. E os outros muitas das vezes residem dentro de nós.

Reflexões são poderosas, mas o sentir é mágico.

Mesmo sabendo que cada pessoa oferece um infinito de interpretações e que variamos nossas atitudes e escolhas, acredito que cada pessoa nos marca por uma característica. É a impressão.

Quando sentamos à mesa de um bar e nos embriagamos de divagações sobre todas as formas de poder: o amor, o dinheiro, a família, os amigos, a comunicação, temos várias perguntas e belas respostas. Mas ao pagarmos as contas as esquecemos em cima da mesa. Carregamos apenas as figuras.

Resolvi mostrar minha coleção de figuras que passaram em minha vida e apontar uma única qualidade, positiva ou não, que deixou uma marca em minha vida. O bobo pode ser um cara inteligente, amoroso, virtuoso, maquiavélico, poderoso, mas naquele tempo em minha vida foi o bobo. E, por isso foi relevante. Ou ainda é.

Eu mesma devo ser a chata no álbum de um, a metida em outro, a querida em um especial ;), a burra, a forte, a ausente, a presente, a perigosa, a boazinha, e em muitos álbuns não devo nem constar. É a vida. Cada um com seu cada qual.

A invejosa

Na verdade conheci, desde muito cedo várias pessoas que transpiram inveja e para minha desgraça ao invés de confrontá-las, as acolhi como pessoas que precisam de carinho e atenção, isso obviamente foi um tiro pela culatra, pois o invejoso não quer admirar o seu objeto de raiva, ele quer permanecer na vibração do inalcançável, que é ser o que é o outro.

Vou selecionar uma figura.

Desde pequena aprendi truques com minha avó, que até chamava uma benzedeira para afastar o mau-olhado de mim. Usar um adereço grande para desviar a atenção e focar a energia negativa apenas nele. É infalível, desde que se acostume a brincos voando de sua orelha, pulseiras de suicidando, colares partindo-se em pedaços. Ora, antes eles do que eu!

Abandonei as perguntas sem respostas plausíveis do tipo: por que inveja de mim? Não sou linda, não sou rica, não sou gênio... Estranho...

Aha, uma dica: a inveja não faz sentido, não fosse um sentimento.

Na medida em que não sendo linda eu me fazia diferente, em que não sendo rica transparecia tranquilidade, em não sendo um gênio, tinha sempre uma boa palavra, me fazia alvo de quem não se apreciava e muito menos se esforçava. Algumas pessoas sorriem diante de um sorriso, outras puxam uma arma.

Ela se aproximou e desde o início eu estranhei, não ‘baixei a guarda’, mas aceitei a aproximação. Movida pela curiosidade. Primeiro pensei que o incômodo seria devido ao fato de achar que ela tinha intenções sexuais. E, longe de mim, agir como homofóbica. Os meses foram passando e lembro que ela vinha pedir dicas, depois conselhos, depois dividia confidências. E o desconforto ia aumentando. Pensava: o que essa pessoa quer de mim? Porque era claro que algo ela pretendia tirar de mim. Os meses se transformaram em um ano, em dois. Situações de embate em que ela cochichava que eu deveria dizer algo e me impor só me faziam calar porque era claro ser uma armadilha eu só não entendia a intenção. Afinal, que perigo eu oferecia? Que poder eu tinha? Apenas quando admiti e reconheci esse poder, pude então virar as costas para a invejosa.

Essa invejosa foi um marco. Ela me deu as respostas. Eu sou linda, rica e um gênio! Pobre menina, não teve como resistir à tentação de me invejar. Soa como uma ironia ou soberba. Mas é a mais pura verdade. Não sou eu que preciso mudar minha lindeza, minha riqueza, minha genialidade, ela que precisa encontrar as dela. Torço por ela. Antes da resposta poderia apenas torcer o pescoço dela.

Não sei se já reparou que as pessoas que nos admiram normalmente usam a palavra inveja com muita tranqüilidade: “Puxa, Maricotinha, você vai viajar nas férias para Holanda? Que inveja! To louca para saber de tudo na volta”. “Godofreda, esse vestido está lindo em você, que inveja, preciso fazer um regime urgente! Hahahaha”. Essas besteirinhas do dia-a-dia. Essa inveja é perfeitamente digerida porque expressa uma olhada para o outro e imediatamente após, uma olhada para si mesma. Qualquer um de nós experimenta essa sensação vez ou outra, mas a invejosa absorve o padrão e só se alimenta do que vê no outro. Vai se esvaziando de possibilidades, vai se amargurando diante das impossibilidades. Só olha para fora e nunca para dentro.


Cuidado, um abraço pode deixá-la furiosa! Eu sigo no que depende de mim, pois nada posso oferecer, ela não recebe só toma.

A invejosa articulada tenta ser sua amiga, se aproxima e como um vampiro, espera ser convidada. Adora confortar quando você está mal, reverta isso a seu favor, não é gostoso ser manipulada. É super prestativa e pode ter uma voz que vibra no mesmo tom sempre, desconfie de tanto autocontrole. Aproveita momentos de baixa para grifar suas inseguranças e os momentos de alta para manipular sua vaidade, tentando expô-la. Preste atenção nos sorrisos, eles vem dos olhos, não dos lábios. Aceite sua lindeza, riqueza, genialidade com tudo de peculiar que possuem.


O manipulador

Normalmente o manipulador tende a subestimá-lo e usa o que ele acredita ser sua maior fraqueza para conseguir o prazer do poder. Acontece que essa suspeita fraqueza é o que mais “mexe” com você. Positiva ou negativamente. Muitas vezes algumas características nossas nos envaidecem, estimulamos estas e as apresentamos com orgulho. Aí...o manipulador entra e tira a arma de nossas mãos e a aponta contra nós. Então o manipulador pode ser revelado como uma imagem - invertida - no espelho. Verdade, mas nem tanto.

Ele veste várias capas. Por vezes você o ama a vida toda e um dia percebe. Ai, que dia doloroso. Agora a dinâmica já está criada. E, parte dela, é de sua responsabilidade. Às vezes o manipulador pensa, sinceramente, que aquela é a única forma de amar. E você igualmente acredita que não há outra forma de se relacionar com ele.

O que dizer de uma pessoa que conheceu vários manipuladores em sua vida? Uma pessoa fraca, descuidada? Não necessariamente. Ouso apostar mais na ignorância.

Seleciono um.

Fui arrogante ao ponto de achar que ele precisava de mim. Isso se chama arrogância porque imaginar que alguém precisa de você é entender que você tem mais a oferecer que essa pessoa. O manipulador percebe isso em seu primeiro gesto e se fortalece aí. Ele te induz a agir de modo a realizar seus pequenos e furtivos anseios. Porque ele é pequeno e precisa de coisas pequenas e vis. Ele vai te seduzindo com possibilidades novas e faz de tudo para você pensar que tudo partiu de você. Ele ajuda na internalização de sua culpa diante das fraquezas dele e você segue o processo. Mesmo que você se questione várias vezes, ele sempre consegue demonstrar que o que lhe oferece é amor, amizade, sinceridade. Usa de todos os clichês imagináveis e por mais que você tenha lido folhetins, cai que nem uma pata.

O manipulador vai sempre usar elogios em profusão, aquecendo sua vaidade, vai sempre se oferecer para estar por perto, porque é assim que vigia a vítima, vai passar a ter uma importância em sua vida e de repente vai te exigir algo.

Libertar-se de um manipulador é das mais doces e doloridas vitórias. Exige autoconhecimento, exige aceitar suas características por completo e entender que mesmo que você não consiga alterá-las pode alterar seu padrão de comportamento, porque tudo na vida é questão de hábito, exercício. O manipulador é seu mais fiel espelho invertido.



A fura-olho

Num grupo de meninas sempre tem uma que é a fura-olho. Normalmente as mais espertas percebem de primeira, as mais idiotas – como eu – demoram um tempo inventando desculpas para ela. Afinal ela é tão meiga, tão bobinha, que os meninos não resistem, não é culpa dela.

Aí você percebe que toda santa vez que alguém se interessa por um moço, em dois tempos a guria o conquista, que seja por uma semana, mas ela ganha a batalha, que nem era uma batalha, pois a oponente estava distraída.

Na maior parte das vezes são pessoas vazias e sem muita cultura, não tem muito assunto, mas sabem sacudir as madeixas e mexer os ombrinhos de uma forma quase pré-histórica, levando os antiquados machos alfa à loucura. Porque o macho beta, que não curte uma disputa boba, se encanta pela fêmea que o complementa e não que o açoita com a cabeleira.

A fura-olho é uma invejosa manipuladora, normalmente muito sedutora, porém sem instrumentos lógicos. Ela ataca, no entanto finge ser presa difícil, finge ser ingênua e mais que tudo finge ser amiga. Porque se você fôr investigar por 10 minutos a vida pregressa da moça vai descobrir que ela não tem em seu banco de dados amiga alguma. Mas ela precisa da presença feminina para poder ter concorrentes, para poder exercitar seu poder de sedução. Ela só se interessa pelo macho de outra. O cara desimpedido passa despercebido.

A fura-olho só será ameaça para aquelas que estão saindo com o cara errado, fique tranquila. O problema dessa figura não é o cara que ela te tira e sim o fato de você ter se enganado, oferecendo sua amizade a uma pessoa que não entende do riscado.


O que ainda não sabe


Sou queen do reino das que encantam rapazes que ainda não saíram do armário.

Nem de longe apresentam ameaça ao seu bem-estar, apenas uma perda de tempo se espera uma estória apaixonada.

Lembro-me de um em particular que conheci em uma noitada. Uma graça de rapaz, super bonitinho, dançava bem, beijava bem. Conversamos horas sobre a vida e como ele estava me confundindo um pouco resolvi ser direta e perguntei: ‘você é gay?’. Ele manteve a conversa em um nível ótimo, me confidenciou certas coisas, mas afirmou categoricamente que não. Segui.

Saímos mais uma vez e ele sempre gentil, cavalheiro, e totalmente encantado por mim se mostrava dono da situação. Bebericamos algo e resolvemos sair para dançar. No meio da dança, minha blusa leve, de seda, entreabriu-se. Por um segundo até fiquei envergonhada, mas ele, olhando para meu decote, desferiu o golpe final: nossa, seu sutiã é lindo. Acredito que se estivesse bêbada teria ali mesmo tirado o adereço e dado ao rapaz, imaginando que o faria mais feliz do que qualquer tentativa minha de sedução.

Guardo com carinho essa figurinha, que como outros que surgiram em minha vida desde a mais tenra juventude me fazem sentir bem, me fazem sentir feminina e especial. Porque demonstraram que se não fossem rapazes gostariam de ser como eu. Adoro. É claro que frustra um pouco, não vou mentir, mas não resisto.


 
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Vou ao jornaleiro comprar mais figurinhas e volto para ir preenchendo o álbum. Tem umas premiadas que quero destacar!

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