Saturday, March 31, 2012

Álbum de Figurinhas


(esse post não tem a intenção de ferir apenas divertir)





Trata-se não de um dicionário ou de uma coleção de rótulos e sim, de impressões.

Diversidade. Não do tipo politicamente correto, porque isso por si só já seria opressor. Acredito que cada um de nós é muitos em um só.

Ouso dizer que Sartre ao dizer “o inferno são os outros” simplifica em um tiro o que ocorre no mais interno processo nosso de viver cada dia. E os outros muitas das vezes residem dentro de nós.

Reflexões são poderosas, mas o sentir é mágico.

Mesmo sabendo que cada pessoa oferece um infinito de interpretações e que variamos nossas atitudes e escolhas, acredito que cada pessoa nos marca por uma característica. É a impressão.

Quando sentamos à mesa de um bar e nos embriagamos de divagações sobre todas as formas de poder: o amor, o dinheiro, a família, os amigos, a comunicação, temos várias perguntas e belas respostas. Mas ao pagarmos as contas as esquecemos em cima da mesa. Carregamos apenas as figuras.

Resolvi mostrar minha coleção de figuras que passaram em minha vida e apontar uma única qualidade, positiva ou não, que deixou uma marca em minha vida. O bobo pode ser um cara inteligente, amoroso, virtuoso, maquiavélico, poderoso, mas naquele tempo em minha vida foi o bobo. E, por isso foi relevante. Ou ainda é.

Eu mesma devo ser a chata no álbum de um, a metida em outro, a querida em um especial ;), a burra, a forte, a ausente, a presente, a perigosa, a boazinha, e em muitos álbuns não devo nem constar. É a vida. Cada um com seu cada qual.

A invejosa

Na verdade conheci, desde muito cedo várias pessoas que transpiram inveja e para minha desgraça ao invés de confrontá-las, as acolhi como pessoas que precisam de carinho e atenção, isso obviamente foi um tiro pela culatra, pois o invejoso não quer admirar o seu objeto de raiva, ele quer permanecer na vibração do inalcançável, que é ser o que é o outro.

Vou selecionar uma figura.

Desde pequena aprendi truques com minha avó, que até chamava uma benzedeira para afastar o mau-olhado de mim. Usar um adereço grande para desviar a atenção e focar a energia negativa apenas nele. É infalível, desde que se acostume a brincos voando de sua orelha, pulseiras de suicidando, colares partindo-se em pedaços. Ora, antes eles do que eu!

Abandonei as perguntas sem respostas plausíveis do tipo: por que inveja de mim? Não sou linda, não sou rica, não sou gênio... Estranho...

Aha, uma dica: a inveja não faz sentido, não fosse um sentimento.

Na medida em que não sendo linda eu me fazia diferente, em que não sendo rica transparecia tranquilidade, em não sendo um gênio, tinha sempre uma boa palavra, me fazia alvo de quem não se apreciava e muito menos se esforçava. Algumas pessoas sorriem diante de um sorriso, outras puxam uma arma.

Ela se aproximou e desde o início eu estranhei, não ‘baixei a guarda’, mas aceitei a aproximação. Movida pela curiosidade. Primeiro pensei que o incômodo seria devido ao fato de achar que ela tinha intenções sexuais. E, longe de mim, agir como homofóbica. Os meses foram passando e lembro que ela vinha pedir dicas, depois conselhos, depois dividia confidências. E o desconforto ia aumentando. Pensava: o que essa pessoa quer de mim? Porque era claro que algo ela pretendia tirar de mim. Os meses se transformaram em um ano, em dois. Situações de embate em que ela cochichava que eu deveria dizer algo e me impor só me faziam calar porque era claro ser uma armadilha eu só não entendia a intenção. Afinal, que perigo eu oferecia? Que poder eu tinha? Apenas quando admiti e reconheci esse poder, pude então virar as costas para a invejosa.

Essa invejosa foi um marco. Ela me deu as respostas. Eu sou linda, rica e um gênio! Pobre menina, não teve como resistir à tentação de me invejar. Soa como uma ironia ou soberba. Mas é a mais pura verdade. Não sou eu que preciso mudar minha lindeza, minha riqueza, minha genialidade, ela que precisa encontrar as dela. Torço por ela. Antes da resposta poderia apenas torcer o pescoço dela.

Não sei se já reparou que as pessoas que nos admiram normalmente usam a palavra inveja com muita tranqüilidade: “Puxa, Maricotinha, você vai viajar nas férias para Holanda? Que inveja! To louca para saber de tudo na volta”. “Godofreda, esse vestido está lindo em você, que inveja, preciso fazer um regime urgente! Hahahaha”. Essas besteirinhas do dia-a-dia. Essa inveja é perfeitamente digerida porque expressa uma olhada para o outro e imediatamente após, uma olhada para si mesma. Qualquer um de nós experimenta essa sensação vez ou outra, mas a invejosa absorve o padrão e só se alimenta do que vê no outro. Vai se esvaziando de possibilidades, vai se amargurando diante das impossibilidades. Só olha para fora e nunca para dentro.


Cuidado, um abraço pode deixá-la furiosa! Eu sigo no que depende de mim, pois nada posso oferecer, ela não recebe só toma.

A invejosa articulada tenta ser sua amiga, se aproxima e como um vampiro, espera ser convidada. Adora confortar quando você está mal, reverta isso a seu favor, não é gostoso ser manipulada. É super prestativa e pode ter uma voz que vibra no mesmo tom sempre, desconfie de tanto autocontrole. Aproveita momentos de baixa para grifar suas inseguranças e os momentos de alta para manipular sua vaidade, tentando expô-la. Preste atenção nos sorrisos, eles vem dos olhos, não dos lábios. Aceite sua lindeza, riqueza, genialidade com tudo de peculiar que possuem.


O manipulador

Normalmente o manipulador tende a subestimá-lo e usa o que ele acredita ser sua maior fraqueza para conseguir o prazer do poder. Acontece que essa suspeita fraqueza é o que mais “mexe” com você. Positiva ou negativamente. Muitas vezes algumas características nossas nos envaidecem, estimulamos estas e as apresentamos com orgulho. Aí...o manipulador entra e tira a arma de nossas mãos e a aponta contra nós. Então o manipulador pode ser revelado como uma imagem - invertida - no espelho. Verdade, mas nem tanto.

Ele veste várias capas. Por vezes você o ama a vida toda e um dia percebe. Ai, que dia doloroso. Agora a dinâmica já está criada. E, parte dela, é de sua responsabilidade. Às vezes o manipulador pensa, sinceramente, que aquela é a única forma de amar. E você igualmente acredita que não há outra forma de se relacionar com ele.

O que dizer de uma pessoa que conheceu vários manipuladores em sua vida? Uma pessoa fraca, descuidada? Não necessariamente. Ouso apostar mais na ignorância.

Seleciono um.

Fui arrogante ao ponto de achar que ele precisava de mim. Isso se chama arrogância porque imaginar que alguém precisa de você é entender que você tem mais a oferecer que essa pessoa. O manipulador percebe isso em seu primeiro gesto e se fortalece aí. Ele te induz a agir de modo a realizar seus pequenos e furtivos anseios. Porque ele é pequeno e precisa de coisas pequenas e vis. Ele vai te seduzindo com possibilidades novas e faz de tudo para você pensar que tudo partiu de você. Ele ajuda na internalização de sua culpa diante das fraquezas dele e você segue o processo. Mesmo que você se questione várias vezes, ele sempre consegue demonstrar que o que lhe oferece é amor, amizade, sinceridade. Usa de todos os clichês imagináveis e por mais que você tenha lido folhetins, cai que nem uma pata.

O manipulador vai sempre usar elogios em profusão, aquecendo sua vaidade, vai sempre se oferecer para estar por perto, porque é assim que vigia a vítima, vai passar a ter uma importância em sua vida e de repente vai te exigir algo.

Libertar-se de um manipulador é das mais doces e doloridas vitórias. Exige autoconhecimento, exige aceitar suas características por completo e entender que mesmo que você não consiga alterá-las pode alterar seu padrão de comportamento, porque tudo na vida é questão de hábito, exercício. O manipulador é seu mais fiel espelho invertido.



A fura-olho

Num grupo de meninas sempre tem uma que é a fura-olho. Normalmente as mais espertas percebem de primeira, as mais idiotas – como eu – demoram um tempo inventando desculpas para ela. Afinal ela é tão meiga, tão bobinha, que os meninos não resistem, não é culpa dela.

Aí você percebe que toda santa vez que alguém se interessa por um moço, em dois tempos a guria o conquista, que seja por uma semana, mas ela ganha a batalha, que nem era uma batalha, pois a oponente estava distraída.

Na maior parte das vezes são pessoas vazias e sem muita cultura, não tem muito assunto, mas sabem sacudir as madeixas e mexer os ombrinhos de uma forma quase pré-histórica, levando os antiquados machos alfa à loucura. Porque o macho beta, que não curte uma disputa boba, se encanta pela fêmea que o complementa e não que o açoita com a cabeleira.

A fura-olho é uma invejosa manipuladora, normalmente muito sedutora, porém sem instrumentos lógicos. Ela ataca, no entanto finge ser presa difícil, finge ser ingênua e mais que tudo finge ser amiga. Porque se você fôr investigar por 10 minutos a vida pregressa da moça vai descobrir que ela não tem em seu banco de dados amiga alguma. Mas ela precisa da presença feminina para poder ter concorrentes, para poder exercitar seu poder de sedução. Ela só se interessa pelo macho de outra. O cara desimpedido passa despercebido.

A fura-olho só será ameaça para aquelas que estão saindo com o cara errado, fique tranquila. O problema dessa figura não é o cara que ela te tira e sim o fato de você ter se enganado, oferecendo sua amizade a uma pessoa que não entende do riscado.


O que ainda não sabe


Sou queen do reino das que encantam rapazes que ainda não saíram do armário.

Nem de longe apresentam ameaça ao seu bem-estar, apenas uma perda de tempo se espera uma estória apaixonada.

Lembro-me de um em particular que conheci em uma noitada. Uma graça de rapaz, super bonitinho, dançava bem, beijava bem. Conversamos horas sobre a vida e como ele estava me confundindo um pouco resolvi ser direta e perguntei: ‘você é gay?’. Ele manteve a conversa em um nível ótimo, me confidenciou certas coisas, mas afirmou categoricamente que não. Segui.

Saímos mais uma vez e ele sempre gentil, cavalheiro, e totalmente encantado por mim se mostrava dono da situação. Bebericamos algo e resolvemos sair para dançar. No meio da dança, minha blusa leve, de seda, entreabriu-se. Por um segundo até fiquei envergonhada, mas ele, olhando para meu decote, desferiu o golpe final: nossa, seu sutiã é lindo. Acredito que se estivesse bêbada teria ali mesmo tirado o adereço e dado ao rapaz, imaginando que o faria mais feliz do que qualquer tentativa minha de sedução.

Guardo com carinho essa figurinha, que como outros que surgiram em minha vida desde a mais tenra juventude me fazem sentir bem, me fazem sentir feminina e especial. Porque demonstraram que se não fossem rapazes gostariam de ser como eu. Adoro. É claro que frustra um pouco, não vou mentir, mas não resisto.


 
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Vou ao jornaleiro comprar mais figurinhas e volto para ir preenchendo o álbum. Tem umas premiadas que quero destacar!

Sunday, March 25, 2012

O melhor dos Pubs / The best Pub

Meu lugar preferido já há uns (3) anos é o Lapa Irish Pub (LIP).

Encantei-me de primeira, talvez porque tenha percebido que ali eu teria meu cantinho. Eu adoro novidades, mas como canceriana sou conquistada quando me sinto confortável. Eu sou boba ao ponto de ficar decepcionada quando chego tarde e algum grupo está sentado no meu sofá, nada que abale a noite. Porque sou chatinha, mas sou cuca-fresca ao mesmo tempo. Nenhuma chateação perdura com um som tão bacana rolando. E muito menos com um atendimento que, mais que profissional, é carinhoso, atencioso e personalizado. Rendo-me. E sempre aproveito. Já assisti a vários shows, meus preferidos foram das bandas Godismen, Foursome e Sideways. E todo mundo canta junto, bebe junto e nunca vi uma confusãozinha, o que por si só, no Rio, já vale a noite.


Se paga uma entrada, salvo engano de R$20,00. No cardápio variedade de drinks e cervejas, o que não me adianta muito porque sempre peço o - indefectível e especialmente preparado – black russian...mmmm...delícia. Mas já provei Caipivodka, (destaque para a tradicional e aquela deliciosa de uva, esqueci o nome...), Apple Martini, Cosmopolitan, doses de uísque; tudo com personalidade. De petisco quase sempre rola um chicken fingers com batata rústica e molho que nunca decepciona. Da última vez pedimos sobremesa e tudo: uma torta mousse com sorvete que estava de arrepiar, pedimos outra. Mas você pode se entregar a Guinness, pedir um balde e seguir noite a fora.

Tem gente de todas as idades e é bem democrático, só precisa gostar do bom e velho rock.
Já comemorei meu aniversário lá e foi ótimo. Não fazem reserva e o lugar não é muito grande, mas se você chegar em horário razoável vai acomodar seu grupo em uma mesa. Se não, fique pelo bar. Mas haja o que houver não sente no meu sofá!

O clima dado pela decoração também foi bem pensado e traz quadros e fotos que, de forma muito divertida, fazem referência à Irlanda. Eu e minhas amigas somos apaixonadas não apenas pelo sofá, mas pelos abajures que deixam o ambiente ainda mais aconchegante. É simples e de bom gosto. Detesto lugares pretensiosos e intimidadores ou descuidados. Ali, a receita do equilíbrio deu certo. Não precisa ser gênio para perceber que nada é à toa por lá. Como sempre digo não sou fã do óbvio ululante.






Lapa Irish Pub é daqueles lugares que sinto falta, detesto ficar semanas sem ir, por mim bato ponto. Adoro levar pessoas queridas, que não conheciam o lugar, para uma noite gostosa, sempre me agradecem. E lá todo dia é dia de rock, baby.
A única parte chata é quando saio daquele clima e no meio da rua da ladeira o funk começa a gritar comigo, fico tão atordoada que sempre penso que bebi além da conta, mas não é isso, fico incomodada mesmo. 

Na direção zona sul não falta taxi, não vá de carro. Na direção zona norte, fica mais complicado por conta do movimento na Mem de Sá, então se for esse seu destino, vá em direção zona sul, mas pelo centro. Tem estação de metrô na Cinelândia, bem perto, mas lembre-se do horário de funcionamento. No mais, vá sem hora para sair e leve os amigos.

E trate bem do meu lugar preferido, porque ele, com certeza, vai te tratar bem.

no mais:
http://www.lanalapa.com.br/estabelecimentoDetalhe.asp?qiNuEstab=147
Endereço: Rua Evaristo da Veiga, 147, Rio de Janeiro, Brazil
Telefone: 21 2221-7236




Saturday, March 24, 2012

Meninos #2

A estória de Ipanema me fez lembrar outra figura: o poeta.

Balançando o esqueleto em Laranjeiras, surge um rapaz um tanto exótico e começamos a dançar e assim foi noite afora. Nos divertimos bastante.

Um ou dois dias depois ele me liga. Papo legal. Mais um ou dois dias, liga outra vez dizendo que queria me ver – vou ser sincera: não estava empolgada, tinha sido uma noite legal, apenas; no entanto ele estava sendo gentil e atencioso, por que não?

Tenham em mente, meninas, que se você fizer a pergunta ‘por que não?’ a probabilidade é de 97,36% de ser um fiasco. (Dados estatísticos coletados pela mesma empresa que confirma que o shampoo tal deixa seus cabelos 88,34% mais macios e o creme tal rejuvenesce sua pele 44,12% depois de 8 dias.)

Por que não? Marcamos um encontro. Perto da minha casa, que eu estava meio preguiçosa. Na hora marcada cheguei ao barzinho da esquina. Pedi um matte e esperei. Detesto ficar sozinha em mesa de bar, mas... Por que não?

Alguns minutos passaram até completar meia hora de atraso, pedi outro matte e liguei para o rapaz, não atendeu, bebi o matte, liguei outra vez, não atendeu, pedi a conta e fui caminhando para casa, pensando: é isso mesmo? Eu desci a rua, sentei sozinha naquela mesa de bar, gastei 5 reais de matte, 2 ligações e o cara me deu o bolo?

Ah... Era essa a resposta do ‘por que não?’


No dia seguinte chego ao trabalho e como de costume já começo a contar a desgraça de forma cômica, e ninguém acredita. No meio da tarde recebo um torpedo do gato:

Mario Quintana
Quem ama inventa as coisas a que ama... Talvez chegaste quando eu te sonhava. Então de súbito acendeu-se a chama! Era a brasa dormida que acordava. Mario Quintana, poeta gaúcho.

Juro pela mãe dos meus filhinhos. Não que eu tenha decorado o torpedo, apenas era uma referência forte.

Minha amiga rebelde, quase aos berros, lendo o torpedo e mostrando para as outras me pediu: Por favor, responda:

Vá se F**** - Maricotinha , poeta carioca.
(mas com todas as letras que aqui censuro e preservo o nome dela)

Claro que não respondi, mas recebi alguns telefonemas aos quais não respondi até reencontrá-lo no mesmo lugar e ele me puxar pelo braço e sorrindo me inquirir: puxa, você está chateada com o que aconteceu?

Eu o olhei de cima abaixo e respondi: desculpa, eu te conheço?

Friday, March 23, 2012

Meninos #1

Há alguns anos estava com umas amigas curtindo um happy hour, em uma boate bacana recém-inaugurada no centro da cidade.

Em certo momento um rapaz se aproxima de minha amiga, cochicha, ela se volta para mim e pede um cigarro para ele, dei; nunca nego cigarro para uma pobre alma. Ele agradece a ela e volta a cochichar, ela então me pede o isqueiro. Fiquei intrigada e quando tive oportunidade perguntei a ele porque não se dirigia a mim. Ele um tanto surpreso me contou: pensei que você fosse gringa. Ah, tá. (acostumada).

Ele se sentiu então à vontade para puxar um papo e logo me perguntou onde eu morava. Tijuca, eu respondi. Ele lançou uma saraivada de nomes de ruas, tentando adivinhar a minha. Não acertou. Diante de tanta intimidade com a geografia tijucana, perguntei, quase afirmando: você também mora na tijuca?

Soem os tambores!!!

Ah, não... Desculpa, eu moro em Ipanema.
a verdadeira garota de ipanema ;)

Tombei a cabeça para o lado, mais uma vez intrigada, não pude resistir: por que desculpa?

Recebi: ah, é que quando digo que moro em Ipanema as pessoas pensam que sou metido – isso ou qualquer coisa do gênero, não importa; a M estava feita.

Prontamente repliquei: ah, que isso? Sou super- pró-ipanema, por mim todos deveriam morar lá. Agora você me dá licença vou ali com minhas amigas. Tive que me afastar para não rir, porque parecia um bom rapaz que apenas disse algo idiota. Mal sabe ele que virou referência entre minhas amigas. Tudo é motivo para um: desculpa, eu moro em Ipanema...

Rolou a noite sem maiores surpresas, eis que ao me preparar para ir embora, ele surge na minha frente: Já vai embora? Eu, sempre simpática, respondo que sim. E por isso sou obrigada a ouvir: Puxa, nem vai me dar um beijo. Como detesto situações constrangedoras, mais que depressa saco os 2 beijinhos cariocas na bochecha do ipanemense. Não satisfeito, retruca: Puxa, só isso? Caramba, fiquei meia hora conversando com você!

Eu mereço! Quem manda sorrir, quem manda escutar abobrinha, quem manda ficar com pena de homem que faz papel de idiota? Pedi licença e fui.

Acontece que o rapaz acabou ficando estampado em meu álbum de figurinhas, até porque depois desse deleite esbarrei com ele algumas vezes. Bom mesmo foi quando em uma tarde de folga, batendo perninhas em Ipanema, como de costume, dou de cara com o galã, saindo de um prédio simplesinho (tá... furreca) na Visconde (de Pirajá), acompanhado da (talvez) mãezinha. Sei que me reconheceu, pois tinha uma expressão sem-graça, enquanto eu passava.

Não pensem que sou daquelas amarguradas que gostam de falar mal de homem. Eu adoro gosto de contar causos. Até gostaria de evitar momentos desconfortáveis, porém, sem esses momentos não tenho estorinhas para contar, né? Vale o preço.


Abraço a Ipanema, bairro preferido dessa tijucana. ;)

Wednesday, March 21, 2012

Tolerância/Empatia_ Tolerance/Empathy

Hoje a caminho do trabalho pude divagar e em meu pensamento 3 acontecimentos se misturavam como em um daqueles filmes em que estórias correm paralelamente e para surpresa de todos desembocam no mesmo ponto. (lembrei do filme 'as horas' - se alguém souber onde encontro o dvd para comprar, agradeço)
Em Toulose, França, um homem decide transformar em atividade diária a sua vontade de matar, a principio de forma randômica, mas provavelmente mais a frente teremos notícias de suas intenções, o que nada importa. Segura uma menina por seus cabelos e atira a queima roupa, deixando a vítima para morrer nos braços dos pais. Isso só para ilustrar um de seus atos.

No Rio de Janeiro, Brasil, é desmascarada uma horda de empresários que negociam propinas a funcionários públicos, desviando verba da saúde pública. Sem segurar nos cabelos de suas vítimas e apontá-las uma arma, as mata no final das contas.

Ainda no Rio, cidade maravilhosa, Artur Xexeo, famoso colunista do Globo, se torna inimigo número um dos ciclistas ao criticar o traçado de uma ciclofaixa em Botafogo. E ao emitir sua opinião e experiência em relação a um suposto transtorno causado foi agredido de forma desproporcional.

No liquidificador canhoto que existe em minha cabecinha se formou um grosso caldo: nosso desastre diário.

Algumas palavras soltas salpicam o caldo: empatia, tolerânciaética.

As regras existem por dois motivos, em nosso mundinho de homens: para possibilitar a coexistência e para serem subvertidas. E os dois motivos se confundiram e em um enlace incestuoso baratinaram nossa espécie.

Em tempos do famoso politicamente (in)correto, vivemos uma censura viril e atenta. Não há grau, medida para ideias. Mais uma vez usamos nosso talento infindável para distorcer boas iniciativas.

Proteger os que são atacados, ou as minorias, é lindo. Mas há um equívoco na administração disso, talvez porque seja novo, estejamos apenas formatando uma nova sociedade. Talvez.

Caso a ética, a empatia e a tolerância pudessem ser disseminadas, em casa, na escola, no trabalho, não seria necessária essa força de polícia, esse remedo de ditadura que te transforma em pária ao se expressar. Não seria necessário matar aquele que não vive da maneira que você acha correta. Não seria sequer imaginada uma maneira de tirar o que não te pertence.

Quando escuto um senhor dizer que ensina aos filhos as formas de se estabelecer como corruptor, eu me arrepio e começo a desconfiar que estou louca. Quando 'aprendo' que existe uma nova ética, mafiosa, que aos cumpadres tudo permite e aos demais joga ao lodo eu percebo que tinha entendido tudo 'errado'. Quando assisto a matança covarde de outras pessoas, como eu, tenho a certeza que estamos todos descontrolados. Me assusta. Te assusta?

Como Xexeo, pensei: engraçado, jurava que o povo que tem a oportunidade de rodar a zona sul de bicicleta era um povo mais relax, de bom-humor, de bem com a vida. Imaginei que pudessem transformar a crítica do colunista em uma brincadeira que provocaria a comunidade a se interessar por seus caminhos, por suas reivindições. Ao ler sua última coluna pude visualizar a cena dele saindo do jornal para pegar seu taxi - queime no inferno por isso - e sendo atacado a pauladas e xingamentos, como os que recebeu em seu email. Que desapontamento. E olha que por mim todo o mundo moraria no domingo de sol do jardim botânico e iria de bicicleta para o trabalho no leblon, sou super a favor da qualidade de vida, para todos.

Então com a mesma raiva talvez se mate ao vizinho por ser judeu, cristão, muçulmano, ateu, ou negro, branco, verde, estampado. Com a mesma proporção se imagina que se o cara morreu na fila do hospital público, 'antes ele do que eu'. E ainda com o ferro na mão se decida o destino de alguém porque o mesmo lhe parece estranho.

A famosa caça às bruxas não terminou na inquisição, e sim deu poderes a qualquer um para fazer qualquer coisa e chamá-la de moral, de ética. Tento imaginar como disfarçar a intolerância e a falta de empatia. Essas estão estampadas nos seres que se dizem pensantes, agentes, importantes. Somos tão pequenos e ao mesmo tempo cada um de nós tão especial.

O que nos difere das plantas e dos bichos: a faculdade de expressar sentimentos. E o freio. Quem nunca sentiu raiva, vontade de esganar alguém? Quem nunca atravessou a rua com medo daquele outro com aparência estranha? Quem nunca deixou de perceber a dor que causava em alguém? Todos nós. A diferença é a possibilidade de escolher o que fará com seus medos, preconceitos e especialmente com seus sentimentos. Será você um ser apenas reativo, que desconhece a própria força? Será você um covarde que ataca antes de ser atacado? Se a regra agora é essa, por que saimos das cavernas?

As vezes tenho vontade de abraçar os primeiros homens e pedir desculpas; sabe aqueles caras que lutaram, cresceram, aprenderam e se juntaram para construir um mundo melhor? Que ousaram chamar de sociedade, que nem pensaram em amarras, em religião, em língua, em política, e mesmo assim imaginaram o melhor dos mundos? desculpa, ae.

 Não tem gente que diz que um homem empreendedor passa a vida construindo e juntando fortuna para os netos torrarem em um ano? Pois é, somos esses netos...


Hoje em dia GENTILEZA é sinônimo de fraqueza de caráter, de pessoa antiquada e demodé e mais precisamente de otário. Gentileza é a forma quase palpável, que se dá a empatia, à ética, à tolerância. Caretice.

Faça uma careta e provoque um sorriso, quem sabe o mundo começa a girar no sentido daqueles ancestrais que imaginaram algo que não alcançamos.

Eu desejo a todos a chance de fazer as melhores escolhas, a coragem de encarar os medos e construir, a beleza do bom-humor, a delícia de ser gentil, consigo e com os outros. Os outros... São cada um de nós, redividido em progressão geométrica. Somos capazes de pedalar pela vida, abrindo estradas para todos passarem, com diferenças sim, porque diferença é bom e eu gosto.

Tuesday, March 20, 2012

Colonia del Sacramento #1

Em viagem a Buenos Aires, no último carnaval, com amigas, estilo sex&city - naaaa - tivemos um dia, planejado com antecedência, muito especial.

Fomos de buque a Colonia, em Uruguai.

Tickets comprados pela internet, por uma amiga, que com presteza agilizou tudo via http://www.buquebus.com/BQBWebV2/web/POR.Home.

A viagem, de 1 hora, por si só já é bem agradável. O buque é grande, espaçoso, confortável, tem duty free a bordo, mulheres!

Chegando lá não esqueça de acertar o relógio, Uruguai estará uma hora adiantado em relação a Argentina. Se quiser passar mais tempo por lá, lembre-se disso.

Pertinho do desembarque está o posto de atendimento turístico, onde fomos muito bem atendidas e de quebra alugamos um locker para deixar umas sacolinhas extras que carregávamos.

Leves e soltas, inspiramos o ar delicioso e fresco, apesar de um sol de rachar. O céu estava tão intensamente azul que alegrava qualquer chato. Comecei a clicar fotos. Importante levar bateria extra para as máquinas porque você clicará compulsivamente.

Visitamos apenas a parte antiga, que por si só é um achado. As construções misturam estilo espanhol e português, devido ao troca troca durante a colonização. Tudo reflete o século XVIII. Até ao Brasil a pobrezinha já pertenceu.

Os muros que tentaram proteger aquele recanto sáo hoje os principais adereços para enquadramentos perfeitos. Você se move 45 graus e uma nova emoção surge. É incrível.
Imagino que não seja necessário ser uma pessoa sensível, ligada a história, arquitetura, amante da natureza e da paz para cair de encantos por Colonia. É bem verdade que li um ou dois depoimentos na internet em que a pobre alma se referia ao seu dia em Colonia como um dia perdido, chato e aborrecido, que pena. Teve até uma moça que disse ter voltado com 3 horas de antecedência para o embarque, rio só de pensar que nós, minhas amigas e eu, quase perdemos o embarque porque perdemos um pouco da noção do tempo, nos deleitando naquele recôndito tão aprazivel...

Não faltam opções para almoçar ou sentar, pedir um vinho e um queijo. Almoçamos bem, experimentamos a cerveza Pilsen - deliciosamente gelada e dividimos uma conta de 600 pesos uruguaios ou 60 reais (!!!).

Caí de amores por uma cave, escondida, com pé direito encostando no meus fios de cabelo, uma 4 mesinhas espalhadas pelo interior e em um jardim de inverno, um cheiro de queijo estupendo e um clima 'me deixa que eu fico'.

As ruas podem até parecer as mesmas, para os olhares mais distrídos, mas a cada janela, a cada porta, era um flash.

Nos destroços do que foi um convento séculos atrás você se perde tirando fotos ou simplesmente sentando numa pedra e deixando o pensamento voar.
A beira do rio da Prata o clima tem um quê de mediterrâneo e você sente o sol, o vento, as cores te acariciarem.

Toda esquina tem um estória, as árvores trazem a impressão de que diversas culturas ali estiveram, porque são as mais variadas, em um pequeno espaço de mundo.
Pesquise na wikipedia sobre a cidade, pergunte a quem foi e estando na América Latina não deixe de se presentear com uma visita a Colonia del Sacramento, nem que seja por um dia.

Se estiver planejando uma viagem romântica, fique mais dias. As pousadas são sensacionais, tem até bar de rock para curtir a noite com seu amor. Se não, vá de vinho. Se não, fique na praça. Se não, fique no quarto. Em qualquer ponto que você durma, imagino que ao abrir a janela pela manhã, sorrirá.





Monday, March 19, 2012

Caveiras / Skulls

Meus amigos e familiares sabem bem de minha paixão e encantamento pelas caveiras. Sou sim um skull freak. Por conta disso já ouvi de um tudo, inclusive que deve ser um tipo de doença, uma perversão mórbida, isso de estranhos. Alguns acham interessante e a minha cara, porque pareço doidinha.

Mas quem realmente convive comigo e sabe que apesar de doidinha não tenho nada de mórbida, tenta entender com carinho essa predileção. Como o universo conspira a favor, no último ano resolveram desencavar - perdoem - a doce caveirinha e colocá-la nas estantes mais cool da cidade. Enfeitaram com laço cor-de-rosa para ser melhor digerida pelo público em geral e revelaram: caveira é fashion. Aí o mundo se rendeu e de doida passei a estilosa. O que a mim não trouxe um cheiro diferente.

Meu gosto por caveiras é absolutamente genuíno e coerente. Sempre me atraiu o marginalizado interessante. O que não faz parte das massas. E principalmente o que não ulula o óbvio.

Sou canhota, escrevo de ponta-cabeça e sou amblíope. Não é minha culpa, o mundo me cai diferente.

Ao mesmo tempo coisas que fazem um sentido quase banal para mim, a outros soa como esquisito. Em português. Porque em espanhol, exquisita, estraña, ou em inglês exquisite traduzem características positivas. Traduzo portanto minha esquisitice em outras línguas, se me permitem.

O que são as caveiras, os esqueletos? Eles não precisam ficar guardados nos armários. Precisam aflorar porque são o que todos nós carregamos; a caixa que guarda nossa alma, nossos pensamentos, nossa permanência. São emblemas de nosso tempo. Colocar um fita rosa pode enfeitar mas não mascara que pereceremos. E isso não é tristeza. Isso é beleza. É força. Perceba que a olho nu, sem maiores conhecimentos científicos, a caveira representa uma igualdade absoluta.

Gosto mesmo das caveiras punk, elas são poderosas e inteligentes. As vikings me arrepiam, até. E quando me sinto doce, as mexicanas me tratam os olhos com carinho. Coleciono. Como a menina que coleciona bonecas, porque com elas brinco, fantasio, me sinto forte e até protegida.

Para ser sincera, nem gosto que tenha caído no gosto popular, preferia quando era algo que dividia com meu personal hairdresser - para ser cool e fashionista - bem como o encantamento por fuscas. Não sou ligada em carros, tampouco entendo de motores, mas se fosse comprar um, seria um fusca muito do transado, branco, com uma caveira preta no capô.

Aproveitanto o lance, visite o blog dessa moça que faz um trabalho lindo, especialmente com as calaveras: http://julianacabeza.blogspot.com.br/

 E só para dar uma pequenina idéia, decorei o escrito com fotos de alguns itens de minha humilde coleção, que já conta com mais graciosidades, graças aos meus amigos que não medem esforços para me presentear, acho que só pelo prazer de me ver dando pulinhos, como se tivesse 6 anos  e tivesse ganho a barbie mais linda.
Então, vocês hoje podem dizer que conhecem uma dona que curte caveiras, rock´n´roll, usa cabelo curto, óculos de sol à noite, mas também chora assistindo 'a noviça rebelde', ouve Elvis e coleciona fotos de Audrey Hepburn, adora Machado de Assis e Pedro Almodovar, ri muito e adora conversar. É feliz por ter estado na França e na Suécia, mas também se divertiu horrores no mercado central de Fortaleza. Essa dona só quer tirar e dar o que há de melhor na vida. Divirta-se.


Sunday, March 18, 2012

Geração Malu Mader

Domingo. Depois do cinema fui jantar com amigas no Alessandro&Frederico, em Ipanema. Entre bebericos e bate-papo, eis que um grupo desce as escadas, entre eles, Toni Beloto - parabéns! - minha amiga mais que depressa lança a pergunta: 'e a Malu?' - intimidade muito comum aos cariocas, acostumados a cruzar diariamente com o povo do showbizz - eu prontamente respondo:'está descendo, logo atrás'... 'ah, tá. Que linda!'. Não sei se ela ouviu, mas instantanemente nos olhou e abriu um sorriso bem MaluMader. Gastamos uns minutos comentando como ela é de uma lindeza simples e cativante, como o Toni Beloto está cada vez mais gato e como eles formam um casal adorável. Na porta encontraram Tande e ficaram batendo um papo. Logo depois saí para o momento cigarro e fiquei pensando...

Sou uma quarentona agora e definitivamente sou da geração Malu Mader. A Val da novela tititi, que em meados dos anos 80 se transformou no símbolo de beleza das garotas, que correram para os salões e tentavam copiar o corte, que deu uma repaginada na expressão garota de ipanema. Ela que, mais velha que eu, ainda sorri com 20 anos. Que parece ainda usar o mesmo jeans que lhe cabia aos 21. Que nunca se rendeu ao que veio depois, apenas foi levando o tempo. Despojada, linda. Tem estilo prórprio e definitivo, que não traz silicone, botox, pernão ou bundão. Que parece usar aquele biquini de cortininha como ninguém. Ela é linda sem conceito. Isso eterniza uma mulher. E o bacana é que parece que a pessoa nem se importa com isso.

Em tempos de celebridades instântaneas, mulheres que mais parecem caricaturas, beleza efêmera, eu gostaria de ter alcançado Malu, naquele momento e perguntado: 'o que pensa disso?'. Imagino que eu ganharia um sorriso e algo do tipo:'cara, sei lá'. Não que estivesse me menosprezando ou que pareça alguém que não tem o que falar, mas talvez simplesmente por ser e não perder tempo rotulando a ninguém tão pouco a si mesma. E essa resposta talvez fosse a confirmação de que, sim, sou da geração Malu Mader.

Agora entendi porque não consigo conviver com o que tentam me enfiar olhos abaixo como padrão de beleza e estilo. Obrigada, garota. Sei porque vesti aquela blusa branca da hering, calcei minhas havaianas e fui dar um rolé na praia. Sei porque guardei nas proporções do meu corpo o meu feminino. Sei porque sinto prazer quando me olham com carinho. Sei porque vivi um dia de cada vez. Eu, bonita? que isso, esquece. Eu sou Malu e ponto. Nada demais. Vamos papear?

Saturday, March 17, 2012

my body is my cage.

(24/07/2011)

Dias como os últimos deveriam servir para um 'pára tudo, vamos rever'.

No frigir dos ovos parece que tudo se refere às escolhas que fazemos e essas estão intimamente ligadas aos tempos que vivemos, porque querendo ou não acreditar, é certo que os que ocupam a mesma terra na mesma época, vibram na mesma energia.

O ser humano traz em si um sentimento de inadequação e busca de aceitação que apenas se difere na intensidade.
Alguns fazem terapia, alguns se relacionam com pessoas que consideram 'inferiores' para não precisar lidar com a própria mediocridade, outros participam de reality shows na TV, poucos resolvem atirar em multidões.

Todos querem ser reconhecidos. Não importa de que forma.
A dor que corre nessas veias deve ter um nome, mas não tem uma medida.

Acho interessante ler alguns depoimentos que determinam que a cantora Amy Winehouse 'teve o que buscou'. Não só ela, todos nós, todo dia, somos vítimas e comparsas do mecanismo de ação e reação. As leis já foram escritas há milênios.
Se precisasse escolher entre o que me choca mais, não seria a morte da citada cantora, seria o massacre em Norway. Porque a moça, no meio de sua angústia, de suas incertezas, suas humanas fraquezas, escolheu destruir o corpo que guardava essa mágoa tão profunda. No caso de Norway a dor se disfarçou de força bruta e atacou o outro. Porque alguns de nós, humanos, acreditamos que a CULPA de tudo está no outro. Que o outro provoca nossa dor, nosso fracasso; o que facilita e muito na hora de tomar decisões: ora bolas, vou destruir o que está me incomodando.
E o interessante é que este pensamento, em alguns casos, se aproxima do ideall, mas na grande maioria das vezes em que é efetivado se realaciona ao equívoco.

Ainda acredita-se que não há revolução sem violência. Ainda precisamos de muitas eras, muitas vidas para evoulirmos a tal ponto em que o argumento, a lógica, a intuição, o reconhecimento no outro, bastarão...

Mais revoltante ainda é quando um homem saca uma arma, atira indiscriminadamente e por este ato prova sua premissa: o culpado por minha dor é o outro. O mal vence.


Esse é o caminho que escolhemos como uma matilha desordenada, desfigurada, desinformada, (ih, não queria ofender os pobres animais), o caminho mais infantil: 'me dá que é meu'. O caminho mais diabólico: 'eu tenho o poder de fogo, se você não aceitar o que penso, te mato'.

Isso parece até uma brincadeira, só que as consequencias sao devastadoras.

Os que nem se imaginam tomando a vida de qualquer outro ser humano, precisam de um sopro de energia para continuar acreditando que qualquer vida é sagrada.

Porque se eu reprovo que um homem use dos métodos usados por seu inimigo para fazer valer seu pensamento, o resto de nós tem que colocar um ponto final aí, se não esse ciclo nunca se interrompe.

Dar o amargo do próprio veneno ao outro só prova que ele, afinal, estava certo.

Não ganha esse jogo quem contar mais corpos inimigos destruídos, mas quem, individualmente mantiver o bem dentro de si. Porque isso se espalha em proporções inimaginaveis, só que leva mais tempo que a outra opção. Até penso que muitas vezes a 'melhor escolha' é na verdade mais assustadora, pelo poder intrinseco que carrega, por isso as escolhas 'erradas'.

Intolerância nada mais é que medo. Só que o medo é seu e a vida que tomas é do outro. Essa conta nunca vai dar certo...

Somos todos neuróticos (no sentido popular e não clínico, por favor) a diferença é como lidamos com isso. Não quero chamar o mal de doença porque assim estarei assinando um atestado que o exime de toda responsabilidade.

Mas o medo do outro mais do que nunca é nossa doença atual e avassaladora... Porque nós vivemos uma chance de conhecimento, de aproximação, de crescimento não se justifica odiar o que não entendo. O ódio pelo outro é o caminho mais fácil para meu medo. É a reação imediata. Não somos tão pequenos assim, não podemos apenas ser reativos, há que existir a possibilidade de pensar, de estimular os sentidos, a alma. Nem me vem com a máxima de que 'estamos em guerra, não dá tempo de pensar', que é a coisa mais verdadeira e idiota já dita. In the first place, why are we living in war? Por que estamos vivendo em guerra, em primeiro lugar?

Não devemos diminuir o impacto de ações individuais e em grupo disfarçadas de crenças, de valores morais, quando na verdade o que querem é a imortalidade pela fama. É aparecer na TV, assinar um livro, virar figura histórica. Porque existe platéia para essa neurose, até os que a repudiam, a assistem até o fim (eu, incluída). Esse reforço, aimeudeus, estimula demais esse tesão pelo reconhecimento, pelo aplauso final. Isso extrapola os limites da miséria humana. A isso não se pode dar o nome de doença.

Estou sofrida com as últimas notícias que nem de longe serão as últimas. Aflita com o futuro já tão próximo e previsiível. Desistimulada pela força do poder do 'eu quero do meu jeito e quero agora'. Triste com a feiúra do que se retrata diante de nossos inertes olhos, ávidos pela próxima cena de ação e destruição...

De qualquer forma, vamos tentar o nosso melhor, combinado?
Um bom domingo, diante de tudo... e não deixe de pensar, dizem que dói, mas parece que é assim mesmo, depois acostumamos ;)

A mulher de 40 / The woman of 40´s

Essa é uma nota escrita no dia em que celebrei os 40 ;)


Tantas regras e modelos foram inventados e quebrar paradigmas sempre foi meu barato.
E ainda assim, sendo careta toda vida, enquanto escutava alguns me rotulando 'porra-louca', expressão feia demais para me traduzir.
Sou muitas em mim. Minha presença divina vem sendo minha busca alinhada.
Tantos caminhos deixei de escolher e ainda assim não reconheço arrependimento.
Adoro rotina e não vivo sem novidade.
O corpo ainda tem a memória da juventude e ainda está curioso.
As mulheres lutam a cada segundo para provar tantas conquistas e às vezes deixam passar os menores detalhes que transformam a vida em algo fantástico.
Saber de sua beleza, de sua natureza, de suas dúvidas, incertezas, amores e perdas, na maioria das vezes só com o tempo.
E o tempo sempre me pareceu um parceiro interessante. Por vezes nem notei sua presença e hoje sei que ele não precisa ser domado para ser vivido.
Já que completo um ciclo de tantas questões o melhor que devo fazer é agradecer.
Por ter sido desejada, amada, querida.
Por não conhecer outra matéria que não seja a intensidade em tudo que vivo.
Por ter conhecido a amizade em um nível impossível de ser descrito.
Por ter tido avós.
Por ter pais.
Por ter irmãs.
Por ter família, barulhenta e incrível.
Por ter amado e por ter um amor.
Por ter sido alimentada e cuidada.
Por querer sempre ser o meu melhor.
Por saber que as diferenças colorem.
Por errar.
Por buscar.
Por poder agradecer.
Uma mulher de 40 anos deve ser respeitada por suas maravilhas, perdidas e encontradas.
Por suas dores e sorrisos.
Por sua sensualidade e delicadeza
E dividir, ao contrário do que possa parecer, aumenta a força de tudo.

Sem medo não há coragem.
Fazer 40 assusta, mas excita.
Hoje celebro com quem quiser viver comigo esse capítulo que começa agora.

Vaidade _ Vanity

ainda na Livraria da Travessa, me sento para curtir uma foccacia com um copo de matte. ao lado, um rapaz sozinho dedilha seu laptop. Aguarda uma moça que logo chega, um tanto desanimada, percebo que mal se conhecem, algum tipo de blind date, talvez. ele se desculpa por estar escrevendo e comenta que ao saber que ela se atrasaria resolvera adiantar um artigo e coloca um ponto. entusiasmado oferece o laptop para que a moça leia 'em primeira mão', completa. Ela lê e permanece desanimada, ele ao contrário logo comenta: 'fantástico, né?' - eu engasgo com o matte.

Fora de catálogo / out of print...


Livraria da Travessa, 3 da tarde, puro deleite. Estava eu de orelha arregalada ouvindo uma conversa um tanto acadêmica para meus parcos e humildes conhecimentos entre a vendedora e um visitante, mas era tão apaixonada a conversa, que me encantou, disse pra mim mesma 'mereço um machado de assis', agarrei um livro e segui, no caminho para o café, abracei mais 2 livros e continuei, contente, na busca do objetivo principal. Os atendentes são sempre ótimos, pedi: 'vocês tem o dvd do filme 'as horas'?, recebi: 'puxa, está fora de catálogo', não desanimei: ' e amelie poulin?', o choque: ' tambem esta fora de catalogo', um tanto triste me respondeu, resolvi fechar com chave de ouro: 'qualquer box do almodovar... tem?', 'vou consultar'...'nossa as 3 boxes estão fora de catalogo'... não pude crer :( 'moço, meu gosto está fora de catálogo?'. gentilmente tocou meu ombro e me consolou: 'não fique assim' ...


utilidade pública (mercado feminino):

atravessando a 1o de março com uma amiga, a caminho do restaurante, faminta, passava das 3 da tarde. Surge ao meu lado um rapaz de aparência comum, trazia um sorriso no rosto quando se dirigiu a mim: 'atrasada para o almoço, né?'... diante da possibilidade (recorrente) de ser alguém conhecido, analiso seu rosto por alguns segundos e nada, respondo: 'é'. Ele continua e de forma direta, o me traz um certo alivio, confirmando ser apenas um desconhecido: 'você é muito bonita'. eu, educadamente agradeço e tento acelerar o passo. Ele permanece, me acompanhando - apesar de eu não ser novela... - 'desculpa te abordar assim, mas é disso que o Rio precisa: de mulheres bonitas que queiram namorar!'. agarro minha bolsa na iminencia de ser assaltada, mas falso alarme... ele continua. - nao pensem que eu a essa altura nao tentava me desvencilhar, tropega, naquela calçada estreita! - 'as mulheres bonitas hoje em dia so pensam em estudar, para serem advogadas, promotoras, juízas, não querem saber de namorar. eu sou fulano-de-tal, sargento da aeronáutica'. O sinal abriu. 'com licença', praticamente me desculpo e sigo meu caminho. olhos arregalados. a amiga me pergunta: 'conhecido seu?'. Não, mas aparentemente um profundo conhecedor da belezura carioca encalhada...

Perfect imperfection

What’s good about perfection is that you never need to explain it, it´s just lying there in front of your eyes, if you can see; close to your heart if you can feel; filling your whole story in a brief moment that can stick forever.
Perfection is so generous that it can, not only accept, but embrace the flaws and make it part of the picture.
If you acknowledge your presence in your own life you have met perfection once or twice.
 If you are extremely lucky you live it in daily basis.
But if you are blessed… you saw, felt, framed, lived, cried, created it for your own pleasure and were clever enough to share it.
The perfect moment…
I simply adore beauty. Ugliness, forgive me (which means nothing, cause it’s a matter of perspective).
Sometimes it’s crystal clear, for me, that life has no meaning, as we call it, life has no shape and direction, it just flows… and we waste a lotta time trying to fix it, to name it, to order it. Silly…
I have faith in beauty, not magazine cover beauty, not concepts of beauty, in beauty that makes me shed a tear.
This picture was taken by a friend of mine, that generously shared with me and let me share it with you. It was taken at Lake Tahoe, USA and is one of amazing pictures he´d showed, mesmerized and inspired me. Thank you, M.
 

Estórias


Estórias não podem ser intransitivas. Estórias existem para serem contadas. Bem ou mal contadas vão gerar consequencias, mas guardadas vão gerar esquecimento. Desejo apenas e tão somente deixar fluir essa energia que se avoluma dentro de mim diariamente. E vou errar, e vou acertar, absolutamente exposta e disposta. Entre e fique a vontade. Mas não muiiito a vontade, porque respeito é bom e eu, como canceriana que sou, adoro.